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CRÍTICA

Manas é bom? Filme quase desbancou O Agente Secreto com apoio de Julia Roberts

DIVULGAÇÃO/ PARIS FILMES

Atriz Jamilli Correa em cena do filme Manas

Marcielle (Jamilli Correa) tenta sobreviver a uma dura realidade de abusos, dentro e fora de casa

GIOVANNA RIBEIRO

giovanna@noticiasdatv.com

Publicado em 18/9/2025 - 17h29

Na última segunda (15), a Academia Brasileira de Cinema anunciou quem será o representante brasileiro na disputa por uma vaga no Oscar 2026. O escolhido foi O Agente Secreto, dirigido por Kleber Mendonça Filho (de Aquarius e Bacurau). No entanto, o filme protagonizado por Wagner Moura teve o favoritismo testado por outro concorrente às vésperas da decisão: Manas, da estreante Marianna Brennand, o que gerou um clima de ansiedade e tensão nos bastidores da indústria.

Mesmo correndo por fora, sem ostentar prêmios como os de O Agente Secreto --de melhor ator (para Wagner Moura) e melhor diretor no Festival de Cannes de 2025-- o longa conquistou aliados internacionais de peso. E chegou a ser exibido em um evento promovido pelos atores Julia Roberts e Sean Penn, que se juntou ao time de produtores executivos do longa.

A movimentação acirrou o clima de "Copa do Mundo" nas redes, com parte do público e da imprensa especializada temerosa por um possível "tiro no pé" da Academia Brasileira, que poderia escolher um filme com menos chances de repetir o feito de Ainda Estou Aqui, de Walter Salles --que, vale dizer, coincidentemente também é produtor executivo de Manas.

Diferentemente de O Agente Secreto, que só deve chegar aos cinemas brasileiros em 6 de novembro, Manas já passou pelo circuito e está disponível no streaming. Passada a decisão, que motivou até certa rejeição a Manas, vale aproveitar a oportunidade para revisitar a obra, que se propõe a ser uma denúncia contra a exploração de menores.

Afinal, vale a pena ver Manas?

Manas conta a história de Marcielle (Jamilli Correa), uma menina de 13 anos que vive em uma comunidade ribeirinha na Ilha do Marajó, no Pará. A trama não poupa o espectador. Entre o cotidiano de balsas e rios, ela encara um destino que parece um beco sem saída, marcado pela vulnerabilidade da condição feminina que, na teoria, deveria ser uma força. Mas aqui, em um contexto de abuso, é quase motivo de vergonha.

Vinda uma família numerosa, Marcielle cultua a imagem da irmã mais velha, Claudinha, que deixou a comunidade resgatada por um "homem bom" vindo de fora. Inicialmente, com o incentivo da própria mãe, Danielle (Fátima Macedo), a protagonista enxerga uma suposta autonomia financeira nas balsas. Mas, à medida que amadurece, suas idealizações ruem diante dos ambientes abusivos, tanto os externos, quanto os domésticos.

A exploração sexual nas balsas é apresentada para os personagens como uma promessa de emancipação, mas o filme escancara a armadilha que espelha a desigualdade social e a violência de uma engrenagem que parece inevitável. Mais abusiva ainda é a realidade enfrentada através da figura do pai, Marcílio (Rômulo Braga).

O filme consegue, de maneira envolvente e eletrizante, colocar o espectador na pele da protagonista. Cada momento de tensão, cada situação angustiante, transforma Manas em um quase suspense ou terror, se não fosse pelo drama terrivelmente real que se desenrola na tela.

Manas denuncia, sem rodeios, as mazelas de um Brasil nem tão profundo, a culpa geracional, o abuso enraizado e o peso de uma religião que muitas vezes é usada para justificar um conservadorismo, aliado das disparidades econômicas e ausências de oportunidades.

Manas é tenso, triste e angustiante, mas é também uma obra que precisa ser vista. Não apenas pelas atuações potentes do elenco, que inclui Dira Paes, mas por ser um retrato da fragilidade de uma infância desprotegida. E da resistência, da coragem e da necessidade de confrontar uma realidade injusta.

Quem é Marianna Brennand?

Cineasta responsável por Manas, Marianna Brennand nasceu em Brasília, em 1980, e é sobrinha-neta do renomado artista recifense Francisco Brennand (1927-2019), além de filha do ex-senador Heráclito Fortes. A sua origem de família tradicional pode explicar, inclusive, os vários aliados poderosos envolvidos na campanha de Manas no Brasil.

Uma carta conjunta divulgada na última semana reuniu a assinatura de mais de 70 empresários de diversos ramos pela escolha de Manas como representante do Brasil no Oscar. Até mesmo a filha do ex-presidente Michel Temer estava na relação de apoiadores.

Resta saber se, mesmo com O Agente Secreto como o representante brasileiro no Oscar, Manas poderá cavar uma chance na premiação por outros meios, em categorias que não as de melhor filme internacional. Um caminho, sem dúvidas, muito mais difícil.


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