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CRÍTICA

Depois da Caçada: Filme com Julia Roberts faz debate corajoso sobre cancelamento

DIVULGAÇÃO/ SONY PICTURES

Os atores Julia Roberts e Andrew Garfield em cena de Depois da Caçada

Julia Roberts e Andrew Garfield em Depois da Caçada; personagens apresentam uma moral duvidosa

GIOVANNA RIBEIRO

giovanna@noticiasdatv.com

Publicado em 9/10/2025 - 16h00

Dirigido por Luca Guadagnino, Depois da Caçada não tem medo de ser controverso. O filme de abertura do Festival do Rio 2025, protagonizado por Julia Roberts, Andrew Garfield e Ayo Edebiri (O Urso), chega aos cinemas brasileiros nesta quinta-feira (9). E se destaca por questionar temas sensíveis da atualidade --como a cultura do cancelamento--, com coragem e sobriedade.

Na trama, Alma (Julia Roberts) é uma professora de filosofia muito respeitada, de uma das universidades mais prestigiadas dos Estados Unidos. Orbitando em torno desta figura de autoridade, estão Maggie (Ayo Edebiri), uma aluna prodígio, e Hank (Andrew Garfield), um professor mais novo da mesma instituição.

A relação de admiração e intimidade aparentemente funcional entre o trio sofre um baque com uma denúncia de estupro de Maggie contra Hank. A professora --a primeira vista uma mulher insensível, e de uma geração muito mais "silenciosa" com temas como assédio do que a de sua aluna favorita --, se vê diante de um dilema ético, enquanto tenta lidar com o escândalo.

Depois da Caçada não quer propor uma conclusão sobre o bem e o mal, o certo e o errado. E sim, examinar o acontece entre essas "rachaduras" de conceitos fechados, ou mesmo após as "sentenças". O que fica depois para as supostas vítimas que conseguem justiça, e para os supostos algozes, que passam por processos de destruição de reputação. 

Vale dizer que nenhum dos personagens é inteiramente isento: todos exibem comportamentos duvidosos. O que pode levar uma parcela do público a acreditar que se trata de um desserviço à movimentos sociais, como o feminista. Afinal, quem poderia ganhar com uma possível descredibilização de uma denúncia de violência sexual?

Todavia, esta ambição é justamente grande parte do mérito de Guadagnino, bem como do roteiro de Nora Garrett. Enquanto alguns poderiam adotar uma posição "chapa branca" diante de tais temas, ou até usando de manobras para agradar mais progressistas ou mais conservadores, Depois da Caçada consegue tratar da situação sem a ingenuidade de "esterilizar" a história, exibindo todas as falhas nas relações. É promíscuo e intrincado, como deve ser.

O longa explora as hipocrisias e contradições humanas sem cair em discursos panfletários ou paródias. Longe de negar movimentos importantes como o #MeToo, Depois da Caçada propõe um debate maduro sobre moral, poder e limites, tanto no ambiente acadêmico quanto nas relações pessoais, permeadas por questões de classe, gênero e raça.

Apesar do título sugerir um suspense violento --e em certo sentido, ele é --, a narrativa se desenrola em um cenário menos previsível.O filme substitui florestas e perseguições por salas de aula, batalhas de ego e jogos de poder. O resultado é um drama tenso, elegante e profundamente humano --mesmo que por vezes abuse de diálogos acadêmicos, que nem sempre servem à história, e podem distanciar o espectador.

Resumir o filme a uma dúvida de quem é a culpa, ou a uma batalha de gerações (Geração Z contra Millennial), seria tão equivocado quanto resumir Julia Roberts a uma heroína das comédias românticas, das quais ela se consagrou. Ou mesmo separar os personagens entre "caçadores e caçados".

Depois da Caçada expõe o quanto os tribunais capazes de condenar uma pessoa ao ostracismo e ao boicote coletivo -- nesse sentido, representado pela figura de Alma-- também pode ser viciado e adoecido por comportamentos ou opiniões consideradas problemáticas. Ninguém está imune, assim como ninguém está protegido por uma justiça passageira.


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