Vitor Thiré revisita até a bisavó em comédia que alfineta etarismo entre atores

Com apenas 31 anos, o ator Vitor Thiré já encara o etarismo de frente. Ou, melhor dizendo, de ladinho, por tabela. Ele está no elenco do espetáculo O Casal Mais Sexy da América, comédia que retrata as dificuldades que artistas enfrentam ao envelhecer. Os protagonistas Susan (Vera Fischer) e Robert (Leonardo Franco) fizeram muito sucesso nos anos 1990, quando estavam no auge da beleza, mas sentiram a diminuição de sua fama conforme a idade avançava.

É uma situação que o público poderá facilmente associar à própria Vera Fischer, que foi Miss Brasil em 1969 e sempre se destacou com papéis de mulheres bonitas e sensuais, mas viu as oportunidades na TV minguarem com o passar dos anos. Para Thiré, porém, a mensagem da peça também podia ser presenciada na família --ele é bisneto de Tônia Carrero (1922-2018), que foi uma das atrizes mais bonitas do país.

"Por eu ser de uma família de atores, cada vez que piso no palco, vem todo mundo comigo: minha bisavó, meu avô [Cecil Thiré], meus tios... 99% dos parentes são do ramo, não tem um médico na família (risos)", brinca ele em conversa exclusiva com o Notícias da TV. "Eu nem sei discernir até onde vai a força da ancestralidade e onde começa a do Vitor, tudo se mistura."

DESABAFO

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SUSTO

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"Como minha bisa foi símbolo de muita coisa, inclusive de beleza, é uma referência para tanta gente até hoje, não tem como separar uma coisa da outra. As pessoas vêm falar comigo depois da peça, e eu vejo um brilho no olhar delas, porque ela era uma musa, uma diva, linda, abriu portas para tanta gente. Eu amo abrir portas também, e isso começou com ela", aponta Thiré.

Na peça, Vitor interpreta o boy do hotel onde os atores veteranos se hospedam para passar a noite antes do funeral de um antigo colega de elenco. Bem mais jovem, ele cria um conflito de gerações com Susan e Robert, já que nunca sequer ouviu falar da série médica que os dois estrelaram há 30 anos. Assim, acaba responsável por alguns dos momentos mais engraçados do texto.

"Todo comediante é ator, mas nem todo ator é comediante. Eu venho da comédia há muito tempo, é a minha linha de interpretação, minha base é a do improviso, e eu estou adorando fazer", valoriza o artista. "A Susan e o Robert vivem aquela montanha-russa de emoções, com drama, brigas, sedução, e eu faço entradas pontuais para ser o alívio cômico, dou uma contrabalanceada."

"Acho fundamental ter esse temperinho que o boy do hotel traz, esse molho para dar um axé na receita. Enquanto os dois encaram muitas revelações, vão se reconhecendo de fato, é bacana ter o boy, que serve como contraponto na questão do etarismo, dessa geração que não tira o olho do celular, está sempre na internet. Faz a plateia refletir sobre a loucura que virou essa fixação pelas redes sociais, em que tudo é selfie, tudo tem que dar opinião. Acho que o público ri da piada, e depois ri de nervoso. E é tudo proposital!", conta.

À reportagem, Vitor Thiré confidencia que, como seu papel é chamado apenas de Boy do Hotel no roteiro, decidiu criar uma identidade (ou várias) para o personagem. "Como ator, a gente sempre gosta de dar uns segredinhos. Para mim, a cada sessão o boy tem um nome diferente (risos). Isso me dá uma energia nova, um gás diferente. Como ele não tem um nome específico, isso me abre um mundo de possibilidades, fica mais flexível. É uma diversão!"

O Casal Mais Sexy da América está em cartaz em Santos (SP) neste sábado (27) e domingo (28), migra para Petrópolis (RJ) no fim de semana que vem (4 e 5) e inicia temporada no Teatro Clara Nunes, no Rio de Janeiro, no dia 17. Os ingressos já estão à venda e podem ser adquiridos pela plataforma Sympla.