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MEU REMÉDIO

Mouhamed Harfouch faz as pazes com origem síria e 'nome estranho' no teatro

Divulgação/Claudia Ribeiro

Com uma túnica árabe, Mouhamed Harfouch faz dança típica síria em um palco de teatro

O ator Mouhamed Harfouch na peça autoral Meu Remédio, em que revisita o próprio passado

LUCIANO GUARALDO

luciano@noticiasdatv.com

Publicado em 21/9/2025 - 12h00

Quando decidiu investir na carreira de ator, Mouhamed Harfouch ouviu de colegas e até de diretores que deveria adotar um nome artístico, algo mais simples do que a "sopa de letrinhas" que o acompanha desde o nascimento. Mas a herança síria já lhe dava dor de cabeça antes disso --na infância e na adolescência, ele só queria "ser normal" como os amiguinhos com nomes brasileiros.

Com a maturidade, Harfouch entendeu que o normal mesmo é ser diferente, que seu "nome estranho" e a cultura do seu pai poderiam ser chamarizes em vez de obstáculos. Ele agora faz as pazes com tudo o que havia rejeitado no passado ao subir no palco com o monólogo Meu Remédio, que idealizou, escreveu e produziu.

"Não queria que fosse uma celebração da minha carreira, porque tinha medo de soar pretensioso", admite ele em conversa com o Notícias da TV. "Mas queria falar dessa maravilha que nós temos aqui, que é a herança dos nossos antepassados. E aí falamos de afeto, de xenofobia, de imigração, o espetáculo chega em um momento muito importante. É uma grande celebração das diferenças, da pluralidade e, sobretudo, da troca entre os seres humanos."

Harfouch conta que, apesar de Meu Remédio falar da sua história, todo o público se identifica com o que vê no palco --mesmo quem não tem nenhuma relação com os árabes. "O Brasil é uma grande mistura de povos, de culturas. Então, tem as particularidades de quem cresceu com um pai sírio, mas quem tem família italiana, espanhola, japonesa também pode se enxergar ali."

Por revisitar o próprio passado, o ator interpreta a si mesmo, sem se esconder atrás de um personagem. "A ideia é me expor de verdade, dar minha cara a tapa, não ter vergonha de colocar minhas fragilidades no palco. Todo mundo tem seus traumas, seus bloqueios, e eu quis falar sobre isso. Verticalizei isso dentro da minha origem, para aprofundar e entender a minha história", diz.

"Eu não faço terapia, mas tem psicanalistas que me escrevem dizendo que meu trabalho é terapêutico, que é o trabalho de um paciente que já recebeu alta (risos). Minha terapia é o teatro, ele foi um remédio na minha vida. Poder se aceitar, entender de onde você veio, é muito maravilhoso. E eu consigo ver isso na plateia também, fico surpreso com a recepção do público", valoriza.

Como toda boa história de vida, a de Mouhamed Harfouch tem momentos muito engraçados e outros que emocionam. "Não é por acaso que as máscaras teatrais são a do riso e a do choro. Meu Remédio faz um convite para todo mundo refletir, olhar dentro de si mesmo, em um momento em que todos estão tão preocupados com os likes, com o engajamento."

O próprio artista confessa que o processo de escrever o espetáculo e tirá-lo do papel --produzir teatro no Brasil não é fácil, ressalta-- fez com que ele refletisse sobre a própria história. Se tivesse ouvido a sugestão dos colegas no início da carreira e optado por um nome artístico, sua vida seria outra.

"Eu acho que sou ator até hoje justamente por causa do meu nome. Fiz Pé na Jaca [2006] porque estavam procurando um ator árabe para viver o Hussein, viram meu 'nome estranho' e me chamaram para o teste. Tanta gente sugeriu que eu escolhesse um nome mais fácil. Mas, se eu tivesse mudado, de repente eu não estaria aqui agora", observa ele.

Meu Remédio segue em cartaz até o domingo que vem (28) no Teatro Santos Augusta (Alameda Santos, 2159), em São Paulo. Os ingressos podem ser adquiridos na plataforma Sympla e na bilheteria local. Após uma temporada bem-sucedida no Rio de Janeiro, Harfouch quer levar o espetáculo para o resto do país. "Para quem estava com medo, agora não quero parar", crava.


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