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AUTOCONHECIMENTO E PRAZER

Por que masturbação feminina como a de Rebeca em Um Lugar ao Sol ainda é tabu?

REPRODUÇÃO/TV GLOBO

Rebeca (Andrea Beltrão) está deitada na cama de olhos fechados e faz expressão de prazer em cena de masturbação em Um Lugar ao Sol

Rebeca (Andrea Beltrão) se masturba em Um Lugar ao Sol; prática ajuda na saúde sexual da mulher

DÉBORA LIMA

debora@noticiasdatv.com

Publicado em 29/11/2021 - 6h30

Uma cena de Um Lugar ao Sol deu o que falar nas redes sociais nesta semana. O público se chocou ao ver Rebeca (Andrea Beltrão) dispensar uma transa com o marido e preferir se satisfazer sozinha. Ainda vista como um tabu por conta do machismo na sociedade, a masturbação feminina estimula o autoconhecimento e promove uma vivência sexual mais potente.

No capítulo da última quarta-feira (24) da novela da Globo, a ex-modelo se recusou a transar com Tulio (Daniel Dantas). No entanto, logo em seguida, ela começou a se tocar por debaixo do edredom e acabou flagrada pelo empresário, que não escondeu a insatisfação de ver a mulher sentindo prazer sozinha. A sequência causou alvoroço e repercutiu entre os internautas.

Mas por que o fato de uma mulher se masturbar ainda é tratado com espanto em pleno 2021? "A organização patriarcal presente em nossa sociedade retirou da mulher o controle do próprio corpo e o direito ao exercício de sua sexualidade. Até hoje, muitos acreditam que a sexualidade tem uma relação exclusiva com a reprodução, mas esse pensamento está equivocado", explica a psicóloga e sexóloga Lara Andrade Coutinho.

"O machismo reforça diariamente essas práticas, a ideia que se passa é de que o sexo não nos pertence, é errado, sujo, pecaminoso", completa a profissional. Assim como Rebeca ficou constrangida ao ser flagrada no meio do ato, muitas mulheres ainda sentem vergonha de dizer que se masturbam e acabam com uma sensação de culpa. Porém, Lara pontua que essa prática traz muitos benefícios para a saúde sexual feminina:

A masturbação é uma das formas de expressão de nossa sexualidade, estimula o contato com o próprio corpo e autoconhecimento. A prática facilita uma vivência sexual mais potente, além de nos tornar mais protagonistas do nosso prazer.

O autoconhecimento através da masturbação também ajuda na melhora da relação sexual com parceiros. "O sexo a dois é uma atividade de trocas mútuas, com momentos em que um dos parceiros pode assumir um certo protagonismo. Conhecer o próprio corpo, entender do que se gosta, de que forma gosta de ser tocada e estimulada só ajuda que a experiência a dois seja ainda mais prazerosa. Somos tão responsáveis pelo nosso prazer quanto nossos parceiros", defende a sexóloga.

Além disso, um estudo clínico promovido pela rede de sex toys Womanizer evidenciou que a masturbação ajuda a aliviar cólicas menstruais e diminuir os efeitos da TPM (tensão pré-menstrual). 

"Após o orgasmo, ocorre a liberação de vários hormônios, incluindo a dopamina que reduz o estresse e ativa uma felicidade interior. Como resultado, outros processos físicos ocupam uma posição secundária. Isso é parecido com o alívio de dor. Além disso, o metabolismo e a circulação sanguínea são estimulados. Ambos neutralizam a dor. Finalmente, durante o orgasmo, os músculos contraem e relaxam, o que pode aliviar cólicas dolorosas", explica Johanna Rief, diretora de empoderamento sexual da Womanizer e responsável pelo estudo Menstrubation (menstruação + masturbação).

Além dos dedinhos usados por Rebeca, a mulher também pode contar com alguns brinquedos eróticos para ajudar na descoberta do autoprazer. "Vá a um sex shop, conheça os produtos e escolha aquele que mais te interessou. Temos vibradores convencionais, bullets, sugadores de clitóris, lubrificantes… Vale a pena explorar esse universo", aconselha Lara.

Autora defende masturbação em novela

Lícia Manzo explicou o motivo de ter abordado a masturbação feminina em Um Lugar ao Sol. "Minha intenção ao escrever a cena foi tirar do armário algo normal e saudável. Que a mulher possa explorar, conhecer o próprio corpo", afirmou a escritora em entrevista ao site da Globo.

"Escrevi a cena porque mulheres também sentem prazer e desejo. Porque a sexualidade é parte da vida das mulheres, e não só dos homens", declarou ela. "Num casamento tóxico, abusivo, a saída mais que honrosa de uma mulher pode ser buscar a conexão perdida com ela mesma, redescobrindo o prazer em si mesma", completou.

"Solidão a dois é algo terrível. E o caminho para a libertação de Rebeca, assim como para outras mulheres, está, literalmente, em suas próprias mãos --e em seu próprio corpo", pontuou a novelista.

Nos anos 1980, a masturbação feminina também causou polêmica no horário nobre da Globo. Em Coração Alado (1980), de Janete Clair (1925-1983), uma cena na qual Débora Duarte se tocava deixou o telespectador perplexo.

A psicóloga Lara Andrade Coutinho ressalta que produções televisivas são essenciais para desmistificar assuntos relacionados à sexualidade: "Os veículos midiáticos são importantíssimos para fomentar alguns debates em nossa sociedade. Uma cena de masturbação feminina em rede aberta ajuda a trazer essa discussão pro dia a dia e, assim, naturalizarmos isso".


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