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ESCANTEADO

Desencontro com Manoel Soares: Para especialista, Globo criou falsa inclusão

REPRODUÇÃO/TV GLOBO

Em frente à plateia do Encontro, Manoel Soares de tranças, camiseta branca e paletó azul

Manoel Soares no primeiro Encontro sem Fátima Bernardes: Jornalista foi escanteado do matinal

LUIZA LEÃO

luiza@noticiasdatv.com

Publicado em 6/7/2022 - 6h35

A Globo anunciou que Manoel Soares e Patrícia Poeta iriam juntos substituir Fátima Bernardes no Encontro. Mas quem esperava ver o jornalista baiano em uma posição de destaque se frustrou. A atração agora só leva o nome da gaúcha, e é ela quem faz as honras da casa e protagoniza as chamadas do programa. A ele, coube o escanteio. "É o marketing da falsa inclusão", analisa Luciane Reis, publicitária e mestra em desenvolvimento e gestão.

Segundo a especialista ouvida pelo Notícias da TV, trata-se do ato de contratar, admitir ou facilitar o acesso de alguns indivíduos considerados minorias em diferentes posições. "Apenas para dizer que a empresa respeita esses públicos", frisa Luciane. Essa diversidade fake, contudo, não é novidade: já era descrita por Martin Luther King Jr. nos anos 1960.

No caso do novo matinal da Globo, a prática fica nítida na figura de Manoel Soares. Ele está presente no palco e pode ser usado como exemplo de representatividade negra na emissora. Ainda assim, não é o líder do espaço e tão menos ajudou a batizar o Encontro, que agora é com Patrícia Poeta.

Se na década de 60 as críticas eram para a forma como as corporações contratavam pessoas negras sem nunca promover ações igualitárias que as colocassem em cargos altos, nos dias de hoje essa diversidade não passa de um simples pretexto para as empresas se dizerem antirracistas.

Na estreia do novo Encontro, uma fala de Patrícia logo na abertura deixou telespectadores surpresos com uma suposta imposição em demonstrar que o programa é apenas seu. "Esse encontro é nosso, não é, Patrícia?", questionou Manoel Soares.

"É isso, e vou contar com você. Fátima Bernardes, durante dez anos, contou com grandes parceiros, e eu vou contar muito com você, parceiro", respondeu ela. Internautas perceberam que a ex-apresentadora do É de Casa tratou o colega como se ele tivesse o mesmo cargo que os repórteres André Curvello e Lair Rennó tinham quando estavam no Encontro com Fátima.

Na sexta (1º), despedida da antiga titular e passagem de bastão entre as capitãs, Soares até foi convidado a sair de campo para que as duas líderes tocassem uma ação de merchandising para uma loja de departamentos. Detalhe, a marca também vende roupas masculinas.

REPRODUÇÃO/GLOBO

Patrícia Poeta e Fátima Bernardes em merchan que excluiu Manoel Soares

Patrícia e Fátima em merchan sem Manoel Soares

Globo antirracista?

Quando anunciou o jornalista negro como titular de um dos seus programas de maior audiência, a emissora entrou na luta contra o racismo e deu o exemplo a outras emissoras. "A Globo tentou ser o que toda empresa precisa: considerar pessoas negras como parte produtiva, positiva e membro da sociedade. Acontece que essa ação não se torna real somente com a presença de pessoas negras no quadro de funcionários", explica Luciane Reis. 

Para ela, o avanço efetivo só acontece quando há uma mudança de mentalidade e de estrutura de poder. "Não se altera uma mentalidade racista construída por diferentes referenciais sem problematizar a experiência escravocrata. E se engana quem acha que podemos falar de diversidade sem abrir mãos dos olhos azuis e de profissionais que gritam nos diferentes meios de comunicação como se fôssemos a Dinamarca ou Suécia", observa.

Além de ativista na luta contra o racismo e pesquisadora da comunicação, Luciane Reis é telespectadora. Mas para ela a representatividade foi vetada das suas memórias televisivas. "Na infância, via a Bombom no Planeta Xuxa (1997-2000) e juro que, em minha adolescência e pré-adolescência, eu praticamente não lembro dos artistas negros que me acompanharam", frisa.

"Essa é a importância de se dialogar sobre uma sociedade antirracista, debatendo privilégios das pessoas branca e das narrativas históricas adulteradas. E, acima de tudo: é preciso avançar nas discussões sobre as políticas do esquecimento diante de uma dramaturgia e escrita de história única e colonizadora", conclui Luciane.


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