Menu
Pesquisar

Buscar

Facebook
X
Instagram
Youtube
TikTok

Memória da TV

Rival de Silvio Santos na TV, Faustão fez pegadinha com candidatura à Presidência

Divulgação/TV Globo

Fausto Silva no Domingão do Faustão em 1989: candidatura de mentira surgiu para aumentar a audiência - Divulgação/TV Globo

Fausto Silva no Domingão do Faustão em 1989: candidatura de mentira surgiu para aumentar a audiência

THELL DE CASTRO

Publicado em 25/3/2018 - 7h13

A eleição presidencial de 1989, a primeira com votação popular em quase 30 anos, chamou a atenção pela peculiaridade: teve 22 candidatos, incluindo Silvio Santos. Fausto Silva, que estreou o Domingão em março daquele ano, decidiu bater de frente com o então maior rival na TV e anunciou sua candidatura. Fausto revelou até alguns ministeriáveis (Sérgio Mallandro seria um deles), mas tudo não passou de uma pegadinha.

A campanha à Presidência de Faustão foi um contra-ataque para recuperar o público, já que Silvio Santos registrou um crescimento de 75% na audiência no domingo seguinte ao anúncio de sua candidatura. Fausto, então, declarou que participaria do pleito. Muita gente caiu na brincadeira, que durou alguns dias. 

O dono do SBT foi anunciado como candidato do nanico PMB (Partido Municipalista Brasileiro), no lugar de Armando Correa, semanas antes do primeiro turno, marcado para 15 de novembro _o nome de Silvio nem apareceria na cédula de papel, porque não houve tempo de imprimir novas.

Ele liderou as pesquisas, mas teve a candidatura impugnada pelo TSE (Tribunal Superior Eleitoral) por causa de irregularidades de registro: o partido não fez as convenções estaduais necessárias.

Já Fausto Silva anunciou em seu programa, após algumas chamadas na grade da Globo, que também seria candidato a presidente. O objetivo da brincadeira, além de recuperar a audiência, era alertar o público sobre como votar nas eleições. Algo que o apresentador tenta fazer até hoje no dominical.

"Fausto Silva acertou, ou está tentando acertar, dois coelhos. O primeiro é recuperar a audiência do seu programa, que começou seis meses atrás batendo o SBT e agora perdeu a liderança. O segundo coelho é desmoralizar a candidatura do animador-empresário do SBT, vista com maus olhos na Globo", destacou Nelson de Sá em texto na Folha de S.Paulo de 29 de outubro de 1989.

De acordo com o jornalista, Antônio Carlos Magalhães (1927-2007), então ministro das Comunicações do governo Sarney, vinha afirmando sobre Silvio: "É melhor o Faustão". "Da piada maldosa para a tela da emissora foi um passo", contou Sá.

O "candidato" da Globo ganhou até uma divertida carreata no Rio de Janeiro, em frente ao Teatro Fênix, onde eram gravados os programas da Globo. O evento contou com faixas, cartazes, charanga e manifestantes gritando palavras de ordem.

Tudo foi organizado pela produção do Domingão, mas o movimento chegou a confundir as pessoas, que pensaram que a candidatura fosse de verdade. Entre os slogans utilizados nas faixas e cartazes, frases como "Bote fé no gordinho. O gordinho é mais", "Faustão candidato do povão", "O povo faz uma exigência: Faustão na Presidência" e "Fausto Silva, o único que enxerga colorido."

divulgação

Em campanha, Silvio Santos exibe cartaz com seu número de candidato à Presidência do país

A falsa carreata, realizada na manhã de domingo, reuniu cerca de cem pessoas e teve até um buzinaço ininterrupto que durou mais de mais uma hora. O barulho provocou a ira dos moradores vizinhos ao teatro da Globo. "O síndico de um dos prédios por pouco não se atracou com um dos seguranças da Globo", destacou Mônica Soares no jornal O Dia de 30 de outubro.

A brincadeira foi tão elaborada que o apresentador chegou até a anunciar seu ministério. Sérgio Mallandro, por exemplo, cuidaria das relações exteriores.

Ao término do programa daquele domingo, Faustão disse que queria sim ser presidente, mas não exatamente do Brasil. "Diante do clamor público, eu aceito ser candidato a presidente da Associação Brasileira dos Pentelhos", declarou ele, para alegria de uns e decepção de outros.

'Pelo menos, dá mais ibope'
O Jornal do Brasil de 27 de outubro decretou: "Se for para ter um animador de programa de TV candidato a presidente, que este seja o Fausto Silva. Pelo menos, dá mais ibope. À exceção de São Paulo, onde a disputa é pau a pau, a audiência nacional do Domingão do Faustão bate amplamente a do Programa Silvio Santos."

A revista Semanário de 13 de novembro de 1989 destacou que existiam muitas semelhanças entre as candidaturas de Faustão e Silvio Santos: "O anúncio foi feito na última hora, quando os eleitores já começavam a definir suas preferências".

"Também, da mesma forma que Silvio Santos, que declarou ter entrado na disputa movido por uma força estranha, Fausto Silva diz estar esperando um sinal de seu guru, o chefão da Globo, José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, o Boni, sobre se deve ou não continuar em seu objetivo", destacou a reportagem.

"Meu candidato à Presidência é o Mário Covas e eu resolvi apenas brincar com a situação. Porque, do jeito que está, dentro em pouco teremos mais candidatos do que eleitores. Não faço campanha de ninguém e tenho, inclusive, recebido vários artistas que falam de seus candidatos, como o Lobão, que vai votar no [Roberto] Freire, o Guilherme Karam, que é [Leonel] Brizola, e outros", disse Faustão ao O Dia.

"Minha grande preocupação é incentivar a rapaziada dos 16 anos para votar conscientemente. 'Não votem útil nem fútil, vote certo' é um dos nossos slogans. 'Urna não é penico' é outra. Não faço brincadeiras para iludir as pessoas. Mesmo porque eu sou da opinião de que o povo sabe votar. E sabe distinguir o que é brincadeira, crítica ou humor", completou ele.

"Estamos numa democracia, e todo cidadão tem direito de se candidatar. Principalmente o Silvio Santos. Afinal, ele é o único candidato que tem programa", concluiu o irreverente Faustão.

Quase 30 anos depois, Silva repetiu que "urna não é penico" no programa exibido no último domingo (18). Candidato ou não, o discurso de 1989 segue bastante atual.


THELL DE CASTRO é jornalista, editor do site TV História e autor do livro Dicionário da Televisão Brasileira. Siga no Twitter: @thelldecastro

Mais lidas


Comentários

Política de comentários

Este espaço visa ampliar o debate sobre o assunto abordado na notícia, democrática e respeitosamente. Não são aceitos comentários anônimos nem que firam leis e princípios éticos e morais ou que promovam atividades ilícitas ou criminosas. Assim, comentários caluniosos, difamatórios, preconceituosos, ofensivos, agressivos, que usam palavras de baixo calão, incitam a violência, exprimam discurso de ódio ou contenham links são sumariamente deletados.