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MEMÓRIA DA TV

Em 1988, Alexandre Garcia deixou Manchete após nudez excessiva no Carnaval

DIVULGAÇÃO/GLOBO

Alexandre Garcia pediu demissão da Globo após 30 anos de trabalho no Jornalismo da emissora - DIVULGAÇÃO/GLOBO

Alexandre Garcia pediu demissão da Globo após 30 anos de trabalho no Jornalismo da emissora

THELL DE CASTRO

Publicado em 30/12/2018 - 6h20

Na última sexta-feira (29), de forma amigável, Alexandre Garcia deixou a Globo após mais de 30 anos de atuação na emissora. Mas a saída de seu trabalho anterior, na Manchete, da qual foi um dos fiadores para a conquista da concessão, foi muito mais conturbada, com direito a proibição de entrar no ar e até mesmo no prédio da extinta rede de TV.

Com muito prestígio entre os políticos, o jornalista havia sido porta-voz do governo de João Figueiredo (1918-1999) entre 1979 e 1980, mas deixou o cargo após uma
entrevista polêmica, onde foi chamado de "garanhão do Planalto" e posou para uma foto falando ao telefone deitado em uma cama.

Nos anos 1980, foi diretor da Manchete em Brasília (DF) e era responsável por uma das maiores audiências do canal na época: o quadro Crônica da Semana, exibido no
Programa de Domingo, que mostrava os bastidores do poder de maneira diferenciada, com bom humor e sagacidade.

No Carnaval de 1988, a Manchete travava uma guerra com a Globo e acabou ficando
sem os direitos de transmissão dos desfiles das escolas de samba do Rio de Janeiro (RJ). Para compensar, fez a cobertura ao vivo de salões de bailes cariocas.

No entanto, como destacou o Jornal do Brasil de 26 de fevereiro daquele ano, "mostrou seios e bumbuns em profusão, ganhando alguns pontos no Ibope, mas também provocando a ira quaresmal do Ministério das Comunicações, que ameaça multá-la".

As cenas mostradas no Carnaval não desapontaram somente o governo. Garcia, de acordo com a matéria, considerou o trabalho da empresa "uma baixaria". Ele ficou
muito irritado quando, para compensar o transtorno causado, a direção da Manchete
pediu para ele gravar uma mensagem do então presidente José Sarney para a campanha em favor das vítimas da enchente do Rio.

"Isso é hipocrisia e demagogia. Vão fazer a campanha para limpar a barra e evitar a
punição por causa do Carnaval. Eu não entro nessa. E não trabalho mais nesta empresa", disse o jornalista.

Posteriormente, Garcia recebeu um telefone do dono da Manchete, Adolpho Bloch
(1908-1995), que lhe prometeu que nunca mais transmitiria o Carnaval. "Eu sabia que ia ouvir promessas iguais às que eu ouvi em 1981, quando fui fiador de uma promessa do Oscar ao presidente Figueiredo", disse ao Jornal do Brasil (JB).

"O presidente tinha dito a ele que não daria a concessão à Manchete porque iriam
mostrar mulher pelada. Ele disse que ia fazer uma televisão séria e garanti isso ao
Figueiredo. Agora, vejo a TV fazer essa barbaridade. A minha cabeça estourou",
completou.

Ele não pode nem se despedir, de acordo com o JB. Foi impedido de entrar no Jornal da Manchete. "Disseram que não tinham confiança no que eu ia dizer", contou o jornalista. E a demissão se consumou. O porteiro da emissora tinha ordem para não deixar Alexandre entrar no prédio sem antes avisar", informou a reportagem.

Poucos dias depois, ele já tinha nova casa: a Globo. Falou ao telefone com Roberto
Marinho (1904-2003) e foi convidado a levar sua coluna para o canal. Assumiu um
espaço no Fantástico, que ficou no ar durante alguns anos, além de dirigir o jornalismo da emissora em Brasília, fazer reportagens especiais e apresentar telejornais, incluindo o Jornal Nacional.


THELL DE CASTROé jornalista, editor do site TV História e autor do livro Dicionário da Televisão Brasileira. Siga no Twitter: @thelldecastro

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