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ANÁLISE

Astro de Hunters, Al Pacino tem participação engolida por um roteiro descontrolado

DIVULGAÇÃO/PRIME VIDEO

Imagem de Al Pacino e Logan Lerman em cena da série Hunters

Al Pacino e Logan Lerman em cena da série Hunters, do Prime Video, como Meyer e Jonah, respectivamente

HENRIQUE HADDEFINIR

Publicado em 24/2/2020 - 4h52

Assim que um nome vencedor do Oscar é anunciado para o elenco de uma série de TV, o mundo volta suas atenções para a tal atração, ciente de que ela virá revestida de seriedade. Quando esse ator é Al Pacino, a expectativa é maior ainda. Mas o ator topou estrelar Hunters, do Prime Video, uma produção tão cheia de exageros e impropérios que a presença do astro acaba engolida.

Criada pelo estreante David Weil, a série foi atrás também de um produtor-executivo de peso: a missão ficou por conta de Jordan Peele, diretor respeitado por trabalhos como Corra! (2017) e Nós (2019), filmes que levaram o gênero suspense a outro patamar e que tiveram muito reconhecimento da crítica.

Os nomes de Pacino e Peele, contudo, não conseguem controlar a mão pesada de Weil. O roteirista constrói uma história rocambolesca sobre um jovem chamado Jonah (Logan Lerman), que anda por aí com seus amigos nerds falando de super-heróis dos quadrinhos e apanhando dos grandalhões da rua.

Esse fator adolescente é proposital e está em alta no mercado televisivo e do cinema. Só que, em vez dos anos 1980 de Stranger Things e It (2017), a história se situa na década de 1970, em uma boa reconstituição de época.

Após a morte da avó, Jonah conhece Meyer Offerman (Al Pacino), líder de um grupo peculiar que dedica sua vida a caçar nazistas escondidos em solo americano.

O longo episódio piloto diz a que veio e marca o que vem pela frente. O tom juvenil do núcleo de Jonah é intercalado com flashbacks horrendos do Holocausto e, quando você menos espera, sequências cômicas estouram na tela, invocando uma estética de violência que remete diretamente aos filmes de Quentin Tarantino.

A sensação é de vertigem. O grupo de caçadores é composto por estereótipos dos filmes de comédia com espiões. Temos Joe (Louis Ozawa), o asiático lutador, o ator canastrão Lonny (Josh Radnor), uma freira psicopata chamada Harriet (Kate Mulvany), uma garota negra descolada de nome Roxy (Tiffany Boone), e um casal de velhinhos vividos por Carol Kane e Saul Rubinek.

O grupo liderado pelo personagem de Pacino está lidando com uma grande ameaça, mas a cada novo episódio em que a seriedade do tema é alternada com licenças cômicas exageradas, o objetivo da dramaturgia parece ir se esvaziando.

Correndo por fora, a detetive Millie Morris (Jerrika Hinton) investiga os mistérios que envolvem as redondezas. Atrás dela --e de todo mundo--, o assassino mercenário Travis (Greg Austin) deixa seu rastro de sangue como se não tivesse nem um tiquinho de humanidade. É quase a máquina de O Exterminador do Futuro (1984), não fossem os monólogos sobre a necessidade de purificar a sociedade.

A história avança com muita segurança, isso é inegável. A direção é bem marcada, sólida e sabe o que quer, ainda que não entenda como está superficializando as coisas com reviravoltas que vão ficando cada vez mais estapafúrdias.

As atuações ficam dentro do esperado para os personagens. Logan Lerman tem a impetuosidade e a fragilidade necessárias para o tipo de jovem que está vivendo. Pacino, no entanto, só empresta sua rouquidão para um personagem que não exige muito de suas habilidades. Ele é uma vitrine para a série, e isso fica muito claro conforme a narrativa avança.

Todos os envolvidos parecem inebriados com o que estão conduzindo porque, em uma olhada menos atenta, a série é tecnicamente muito bem feita e tem uma trama ágil, fatores essenciais para o sucesso de um produto da TV nos dias de hoje. Mas falar de Holocausto e da perpetuação de seus males exige uma atenção redobrada ao senso de bom gosto.

Sem tempo para respirar, os episódios vão entregando seus segredos em meio a muita violência e comédia, em uma mistura bizarra que parece querer discutir segregação de modo contundente, mas sem conseguir parar de fazer piada das situações. Ao final, as últimas revelações são tão loucas que até fazem Hunters parecer original. Mas essa sensação passa logo.

Enfim, mesmo com Al Pacino no elenco e Jordan Peele na produção, a série não escapa de parecer um mosaico de referências de terceiros, organizadas numa estrutura muito segura, mas empobrecida de verdade. Surpreender é mais importante, como se a história real já não fosse suficientemente chocante.

Hunters está com sua primeira temporada completa disponível no Prime Video.


Este texto não reflete necessariamente a opinião do Notícias da TV.

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