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PELAS RUAS

Com mil filmagens por ano, São Paulo vira meca do cinema na América Latina

DIVULGAÇÃO/ALEXANDRE TAKAKI E HELEN SALOMÃO

Gravação do clipe Bluesman, do Baco Exu do Blues, no bairro do Glicério; produção da Stink Filmes - DIVULGAÇÃO/ALEXANDRE TAKAKI E HELEN SALOMÃO

Gravação do clipe Bluesman, do Baco Exu do Blues, no bairro do Glicério; produção da Stink Filmes

EDIANEZ PARENTE

Publicado em 25/8/2019 - 5h34

As ruas de São Paulo registram mil filmagens por ano, número que coloca a cidade como destino de desejo para as produções cinematográficas. A capital paulista deixou para trás outros importantes centros do audiovisual, como Bogotá (Colômbia). Atraídas por facilidades, séries internacionais como Sense8, Black Mirror e Conquest, nova produção do ator Keanu Reeves, decidiram rodar algumas cenas por aqui.

Desde que a Prefeitura de São Paulo passou a contabilizar as produções, há três anos, o número de obras rodadas nas ruas (as chamadas locações) totaliza 2,8 mil.

Entre os motivos para a cidade sediar tantas filmagens, atraindo equipes nacionais e internacionais, estão a boa infraestrutura e o grande volume de produtoras de conteúdo e de publicidade, que oferecem suporte de logística, equipe e equipamentos para quem vêm de fora de São Paulo.

Outro ponto importante diz respeito à desburocratização para obter as autorizações necessárias. Na manhã do dia 17, por exemplo, a avenida Paulista ficou fechada em um trecho de 500 metros para uma filmagem. A facilidade para bloquear o acesso à via mais famosa do Brasil em pleno sábado impressiona, mas também provoca transtornos --o fechamento gerou congestionamento em vias próximas. 

Em São Paulo, quem faz a interlocução entre as pastas da prefeitura a fim de autorizar e ajudar as produções é a SPCine, órgão municipal voltado para o cinema e o audiovisual, por meio de sua SP Film Comission, um departamento totalmente dedicado às filmagens na cidade.

Para a diretora-presidente da SPCine, a cineasta Laís Bodanzky (que dirigiu Bicho de Sete Cabeças, de 2001, e Como Nossos Pais, de 2017), a cidade é um "presente" para quem está atrás das câmeras. "O Centro está muito conservado. Em um tour que fizemos, fomos vendo que o nosso Centro é ótimo para as filmagens", diz.

"Na linguagem dos cineastas, falamos que São Paulo tem 'plano' com valor de produção. Ou seja, mesmo se não houver muita verba envolvida [no orçamento], a imagem [da cidade] gera um maior valor para a produção", diz Laís.

A arquitetura com variedade de estilos e profundidade de campo, como a que pode ser observada no Vale no Anhangabaú, no Viaduto Santa Efigênia e no famoso skyline (linha do horizonte) da cidade, também são pontos de atração para os cineastas que decidem rodar suas obras na Pauliceia.

divulgação/aline arruda

Filmagem do longa Nada a Perder, da Paris Filmes, na rua Roberto Simonsen, região da Sé


Superprodução de Keanu Reeves

Para se ter ideia de como planejar uma superprodução demanda tempo, a vinda da equipe para a filmagem de Conquest, produzida por Keanu Reeves, envolveu nove secretarias da prefeitura e consumiu um ano de negociações. A produção começou a rodar no último domingo (18) e ficará em São Paulo durante um mês. A série é dirigida pelo cineasta britânico Carl Erik Rinsch. A produtora local é da O2 Filmes.

"O plano é entrar mais ainda no radar oficial das grandes produções internacionais", afirma Laís Bodanzky, que espera que a cidade fique parecida com Nova York em termos de filmagens. Em um simples passeio a pé pela metrópole norte-americana, é possível cruzar com diversas gravações acontecendo.

Impactos positivos e negativos

As produções de grande porte causam impactos positivos na economia da cidade, em setores como hotelaria, alimentação e transporte. Têm influência direta na geração de empregos e mão de obra.

São Paulo tem 3 mil empresas com atividades ligadas ao audiovisual e 1,5 mil produtoras, que filmam 3,5 mil diárias por ano. Segundo a SPCine, desde maio de 2016 até junho de 2019 foram gerados mais de 65 mil postos de trabalho, com movimentação financeira de pelo menos R$ 1,3 bilhão. 

O valor de uma diária de filmagem, que inclui todos os custos da equipe de uma produtora na rua, varia muito. Pode ir de R$ 5  mil a R$ 800 mil reais, a depender do tamanho da produção, do elenco e do estafe. Obviamente, a presença de uma celebridade na filmagem eleva o valor às alturas. 

Para o Sindcine (Sindicato dos Trabalhadores na Indústria Cinematográfica e Audiovisual), é importante o trabalho da Film Comission na organização e segurança das filmagens em locação e uso de espaços públicos. "Prazos adequados para um melhor planejamento reduzem os riscos de acidentes previsíveis nas filmagens em locações", afirma Sonia Santana, presidente da entidade. 

Mas há também o lado das reclamações por parte de quem tem sua rotina alterada. Moradores da região central onde ocorreram as filmagens de Conquest se declararam incomodados com toda a movimentação, o barulho e a queda de energia provocados no set ao ar livre. Quem reside em áreas muito requisitadas ainda se ressente por se deparar com viaturas, carros e bloqueios que atrapalham o dia a dia.

A diretora da SPCine diz que participa de muitas reuniões nas subprefeituras com associações de moradores, em que elas apresentam suas reinvidicações. Mas Laís Bodansky pontua a necessidade de uma mudança de hábito.

"Tem de ser pactuado. Procuramos sempre consultar, colocando que deve ser uma questão de orgulho para as pessoas ver na tela o local onde moram", afirma. Segundo a diretora, outras cidades com locações compreendem a importância do fato, pois ele gera impostos.

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