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LADO B

Censura, agressão e alcoolismo: Filme mostra Hebe Camargo que a TV não viu

Fotos: Divulgação/Warner Bros.

Andréa Beltrão bebe em cena do filme Hebe, a Estrela do Brasil, entre as atrizes Karine Teles (Lolita Rodrigues) e Claudia Missura (Nair Bello)

Andréa Beltrão entre Karine Teles (Lolita Rodrigues) e Claudia Missura (Nair Bello) no filme de Hebe Camargo

LUCIANO GUARALDO

Publicado em 26/9/2019 - 5h40

Sete anos depois de sua morte, Hebe Camargo (1929-2012) volta aos holofotes nesta quinta (26) com a estreia do filme Hebe, a Estrela do Brasil. O longa, porém, vai abordar a vida da apresentadora de um ângulo que seu público não via. Violência doméstica, alcoolismo, Aids e o embate com a censura pontuam a obra estrelada por Andréa Beltrão.

O filme mostra o impacto que a loira teve na censura do governo à televisão nos anos 1980, quando Hebe pediu demissão ao vivo da Bandeirantes e acabou contratada por Silvio Santos (Daniel Boaventura) para levar seu sofá para o SBT. Ela só desistiu da primeira emissora depois de receber do executivo Walter Clark (Danilo Grangheia) uma lista de coisas que não poderia fazer no programa ao vivo.

Para peitar o chefe, que não queria sequer que um ator aparecesse vestido de mulher na TV, Hebe convidou Roberta Close (Renata Bastos) e Dercy Gonçalves (Stella Miranda) para sua atração. A primeira foi apresentada como "Luiz Roberto Gambine, a mulher mais bonita do Brasil". A segunda, revoltada com o rótulo dado à primeira, mostrou os seios para as câmeras e destilou palavrões ao vivo.

No filme, isso é mostrado como um ato desafiador de Hebe, que queria provar que a censura, ao contrário do que era propagado pelo governo, ainda não tinha chegado ao fim. Ela até provocava os censores para que a polícia entrasse ao vivo no estúdio da Bandeirantes para tentar tirá-la do ar.

A apresentadora também só fechou com o SBT após a certeza de que seu programa semanal seria sempre ao vivo, e que ela teria liberdade para falar o que bem entendesse --sem amarras, Hebe bateu de frente com a Assembleia Constituinte em 1987 e quase tirou a emissora do ar, fato que o filme também mostra

Diretor Maurício Farias mostra a Andréa como segurar garrafa quebrada em cena de violência


Violência e vício

Em meio a essa Hebe forte, A Estrela do Brasil também mostra momentos de fragilidade da "gracinha". A relação com o segundo marido, Lélio (Marco Ricca), foi marcada pelo ciúme exagerado do empresário, que chegou a agredir a apresentadora. Uma sequência marcante mostra ela quebrando uma garrafa de seu bar particular para usar os cacos como arma contra o enlouquecido.

A relação com a bebida também é um ponto inesperado na trajetória da loira. Ela aparece muitas vezes com um copo na mão, e chega a se descontrolar por causa do álcool. Bêbada, coloca um par de brincos valiosos em um dos vários vasos de sua mansão. No dia seguinte, sem se lembrar de nada, fica desesperada com o sumiço das peças e até acusa os funcionários de roubo.

Por se passar na década de 1980, o longa ainda aborda o surgimento da Aids, na época encarada como uma sentença de morte que atingia basicamente homossexuais. A vítima é Carlucho (Ivo Müller), cabeleireiro de Hebe que fica muito doente e recebe o afeto da loira. Ela aproveita a ocasião para falar em seu programa sobre a doença, um tabu na televisão oitentista.

Apesar de abordar partes polêmicas da vida da apresentadora, a roteirista Carolina Kotscho ficou livre para contar essa história como quisesse. Sobrinho de Hebe, Claudio Pessutti é um dos produtores do filme e diz que não interveio em nada.

"A equipe teve total liberdade. Eu nem participei dessas reuniões. A Carolina entrou no acervo que eu tenho em casa, com coisas que os fãs fizeram, álbuns cheios de recortes, de fotos, desde 1947. Tudo o que é dito no filme é verdade, às vezes de um ângulo diferente. Mas eu nunca censurei nada, absolutamente", afirma ele.

Carolina, que também roteirizou 2 Filhos de Francisco (2005) e Não Pare na Pista (2014), sobre as vidas da dupla Zezé Di Camargo & Luciano e de Paulo Coelho, respectivamente, também ressalta que sequer aceitaria o convite para trabalhar no longa se precisasse respeitar alguma restrição da família.

"Eu faço isso há 25 anos. Para mim, só faz sentido se eu puder contar a história em que eu acredito. E nisso o convite foi muito generoso, o Claudio me disse: 'Minha tia era uma pessoa de verdade'. E o que me encantou na Hebe era a intensidade dela. Se era para defender o [Paulo] Maluf, ela fazia. Se era para admitir que errou, tudo bem. A Hebe é a maior prova de que defender o certo não é questão de ideologia, é caráter. Ela falava tudo, apontava dedo, procurava briga, mudava de ideia. O filme tinha que ter esse espírito, e acho que eu coloquei tudo lá. Ela era assim", encerra.

Confira o trailer do longa:

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