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MESTRES DAS NOVELAS

Globo vai mostrar bastidores da censura em minissérie sobre Janete Clair e Dias Gomes

Divulgação/TV Globo

Betty Faria e Lima Duarte em cena de Roque Santeiro, versão de 1975 que foi censurada  - Divulgação/TV Globo

Betty Faria e Lima Duarte em cena de Roque Santeiro, versão de 1975 que foi censurada

DANIEL CASTRO

dcastro@noticiasdatv.com

Publicado em 19/8/2019 - 5h20

A Globo produzirá no ano que vem uma minissérie de dez capítulos que contará a história de amor e luta de dois dos maiores autores de novelas de todos os tempos, Alfredo Dias Gomes (1922-1999) e Janete Clair (1925-1983). A obra, que está sendo escrita por uma neta do casal, Renata Dias Gomes, irá mostrar os bastidores da rígida censura imposta pela Ditadura Militar (1964-1985) às telenovelas. Dias Gomes escreveu Roque Santeiro, que foi impedida de estrear em 1975 quando já tinha 20 capítulos gravados.

Dias e Janete foram os principais autores da Globo nos anos 1970. Juntamente com o diretor Daniel Filho, modernizaram o gênero, com histórias naturalistas, ágeis, mais próximas da realidade brasileira, algumas com tom crítico. Deixaram como "herdeiros" autores hoje veteranos, como Gloria Perez, Aguinaldo Silva, Gilberto Braga e Marcílio Moraes.

A Globo conta com Dias de Janete, nome provisório da minissérie, para janeiro de 2021, mas, por enquanto, só há roteiro. Renata Dias Gomes divide o texto com Newton Moreno e Guilherme Vasconcelos.

Janete conheceu Gomes em 1945, nos corredores da rádio Tupi-Difusora, em São Paulo. Ligado ao Partido Comunista Brasileiro, Gomes perdeu o emprego e teve de se mudar para o Rio de Janeiro, em 1950, poucos dias depois de se casar.

Para ajudar no orçamento doméstico, Janete passou a escrever radionovelas. Foram 30 até 1967, quando foi chamada pela Globo para assumir uma novela condenada ao fracasso (Anástácia - A Mulher Sem Destino) e a salvou promovendo um terremoto que matou a maioria dos personagens.

Dias Gomes e Janete Clair se casaram em 1950

A virada veio em 1969, quando escreveu Véu de Noiva, novela que é um marco na transição do estilo capa e espada da Gloria Magadan para o estilo Janete Clair. Ela se consagrou no ano seguinte, com Irmãos Coragem. Escreveu clássicos como Selva de Pedra (1972), Pecado Capital (1975), O Astro (1977) e Pai Herói (1979).

Dias Gomes já era dramaturgo consagrado quando começou a trabalhar na Globo, em 1969, e passou a ser um comunista protegido por Roberto Marinho (1904-2003). Já tinha escrito dezenas de peças de teatro, entre elas a obra-prima O Pagador de Promessas (1959), que, adaptada para o cinema por Anselmo Duarte, ganhou a Palma de Ouro no Festival Internacional de Cinema de Cannes, em 1962.

A carreira de Dias Gomes foi marcada por inúmeros problemas com a censura. Foi perseguido pelos militares, que invadiram sua casa em 1966 e proibiram sua peça O Berço do Herói na noite da estreia. Sua estreia na Globo foi sob o pseudônimo de Stela Calderón.

Dias Gomes deu profundidade às telenovelas, ambientando romances em temáticas polêmicas, como divórcio e reforma agrária, e criando personagens que o público identificava na sociedade brasileira, como o bicheiro Tucão de Bandeira 2 (1972). Por causa disso, teve novos problemas com a censura, em 1973, com O Bem-Amado, e em 1975, com a proibição de Roque Santeiro.

Janete, que foi chamada às pressas para escrever a novela que entraria no lugar da do marido, Pecado Capital, também não passou ilesa à tesoura dos censores federais. Ficou conhecida pela capacidade de superação e criatividade para reescrever, em muito pouco tempo, cenas e capítulos inteiros.

Em 1983, foi Dias Gomes quem teve de substituir Janete, que morreu de câncer no intestino enquanto escrevia Eu Prometo. Ele orientou Gloria Perez a dar continuidade na história. Morreu vítima de acidente de carro em 1999.


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