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CONVERSA COM BIAL

Ícaro Silva explica por que não processou policiais após ser alvejado com tiros

REPRODUÇÃO/TV GLOBO

O ator Ícaro Silva no cenário do talk show Conversa com Bial, na Globo

Ícaro Silva no Conversa com Bial desta segunda-feira (23): ator relembrou quando foi alvejado pela polícia

KELLY MIYASHIRO

Publicado em 24/9/2019 - 10h14

Ícaro Silva explicou a Pedro Bial por que decidiu não processar os policiais que o alvejaram com tiros, após passar por um blitz no Rio de Janeiro, em setembro do ano passado. "Eu não queria ser um mártir para a esquerda e nem um bode expiatório para a direita", contou ele durante o Conversa com Bial desta segunda-feira (23). O incidente aconteceu um mês antes da eleição presidencial de 2018.

O entrevistador pediu para Silva relembrar do dia fatídico. "O carro dele foi alvejado. Quer dizer, o carro não, ele foi alvejado", ressaltou Pedro Bial, antes de perguntar onde a bala atingiu o ator. Ícaro, então, levantou o braço esquerdo, evidenciando a cicatriz deixada pelo tiro. 

"É engraçado porque tem o meu depoimento e o depoimento dos policiais, que conflitam", começou o ator, dando uma risada irônica. Ícaro Silva voltava de uma festa com amigos, por volta das 5h, e no caminho para casa ele passava pelo Túnel Zuzu Angel, na zona sul da capital carioca. 

Ele foi atingido por balas de fuzil depois de passar por um bloqueio policial. "Tava uma escuridão, e tinha um monte de gente na rua, eu já fui logo reduzindo [a velocidade d]o carro com aquela tensão da gente que mora no Rio de Janeiro", descreveu o ator. 

Ícaro contou que, além de reduzir a velocidade, acendeu a luz interna do carro e percebeu que os policiais estavam em "estado de guerra", tensos e alterados. "Todos eles apontando fuzis na minha cara, eu abri o vidro lateral e perguntei o que estava acontecendo, mas eu vi que não era uma blitz normal". 

"Ele gritava comigo: 'Vai embora, porra! Vai embora, filho da puta!', posso falar palavrão esse horário, né?", descontraiu Ícaro, que deduziu que os policiais estavam em confronto naquele momento e, então, decidiu acelerar o carro para ir embora. 

O dublador do personagem Simba do filme Rei Leão (2019) falou que passaram-se três segundos até ele começar a ouvir os barulhos de tiros. "Foi igual um filme de velho-oeste, que os tiros começam a fazer as coisas voarem, as coisas do carro começaram a voar à minha volta", revelou Ícaro, simulando barulhos de disparos. 

A Bial, Ícaro disse que levou um tempo até perceber que sua camiseta estava encharcada de sangue. "Você não sentiu o tiro?", perguntou o apresentador, chocado, que logo justificou que foi por causa da adrenalina do momento. 

O ator ressaltou que acreditou ter passado no meio de um tiroteio. Momentos após sua chegada a um hospital para receber atendimento, a perícia da polícia apareceu. "A perícia constatou que todas as balas encontradas no meu carro eram da própria polícia. Todas. Todas vieram da mesma direção, de trás, e todas saíram das mesmas armas. O que aconteceu foi que, assim que saí dessa blitz, algum deles decidiu me matar", desabafou Silva. 

O Ticiano de Verão 90 ainda comentou que o depoimento dos policiais dizia que eu furei o bloqueio, o que teria motivado a alvejada de tiros. "Quando eu ouvi isso do delegado eu ri. Falei: 'Meu querido, eu sou um jovem preto no Rio de Janeiro, no meio de uma blitz, às 5 horas da manhã. Se eu quiser me suicidar pode ser que eu fure uma blitz', porque não existe furar [para alguém como eu]", completou Ícaro Silva. 

"Você decidiu comprar a briga?", questionou o titular do talk show da Globo. Ícaro pontuou que não queria comprar essa briga pois não gostaria dessa "energia de guerra" para si, e que o cenário político também não agradava.

"Não comprei a briga, primeiro, porque não queria me envolver com uma instituição que vive em guerra. E a segunda coisa é que a gente estava em um período pré-eleição, e eu não estava a fim nem virar mártir da esquerda nem bode expiatório da direita nessa polarização horrorosa que o Brasil virou", finalizou. 

Na época do ocorrido, um mês antes das eleições presidenciais, o ator publicou o relato em seu Instagram e pediu para que aquela história, infelizmente cotidiana, se tornasse inspiração para desconstruir a agressividade diante da vida. "É hora de desarmar e amar", escreveu. 

Confira a publicação do ator Ícaro Silva do dia em que foi baleado: 

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Queridos amigos, amores, seguidores e parceiros, eu estou bem! Hoje mais cedo, ao sair do túnel Zuzu Angel voltando para a Barra, me vi em meio a uma violenta confusão que até agora não sei se era uma blitz, um tiroteio ou uma dessas operações de guerra infelizmente tão habituais na nossa cidade. Viaturas, policiais com fuzis na mão e aquele medo súbito que o carioca conhece tão bem. Um policial me pediu para reduzir e eu obedeci. Baixei o vidro e perguntei o que estava acontecendo. O nível de stress dele era muito alto, ele falava comigo diretamente do inferno, o coração em guerra. Outros dois policiais vieram gritando, os fuzis apontados para mim; não sei se me reconheceram ou não, mas com a mesma violência com que me pararam, me mandaram ir embora, xingando e berrando em seu estado de guerra. Quando eu voltava a acelerar e antes de entender o que estava acontecendo, um estampido no meu carro me congelou. “Isso é um tiro?” Os próximos vários confirmaram que sim. Abaixei a cabeça e enfiei o pé no acelerador como se tudo no mundo fosse tiro e pedal. Enquanto meu pé e meu coração aceleravam, minha sensação física era de “não precisa ser assim”. De fato, não precisa. Acelerei sem fim até me ver longe dali, o corpo em choque, a cabeça caçando sentido, como se houvesse algum nessa barbárie cotidiana que é o Rio, minhas mãos trêmulas. Só depois de respirar fundo percebi o buraco de bala no para-brisa do meu carro e minha blusa molhada. “Meu Deus. Eu levei um tiro?” Me apalpei até encontrar o furo ensanguentado no meu braço. Sim, uma bala rasgou meu braço e deixou uns estilhaços ali, carimbo metalizado da violência urbana. Um pequeno pedaço de metal e morte que podia ter cruzado meu peito ou minha cabeça, um lembrete da nossa frágil condição de gente. Eu to legal. To muito feliz por não ter morrido, sério. Tem muita coisa pra fazer por aqui, muita coisa para ver e muita, muita coisa para consertar. Muito obrigado por todas as mensagens, to mais solicitado que no meu aniversário, rs. Vocês são lindos, são lindos demais. Espero que essa história infelizmente cotidiana nos inspire a desconstruir nossa agressividade diante da vida. É hora de desarmar e amar.

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