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ACABA NESTA QUINTA

Por que nenhum vencedor do The Voice faz sucesso? Porque só o ibope importa

Reprodução/Globo

O cantor Renato Vianna, vencedor do The Voice 2015, continua na batalha pelo sucesso - Reprodução/Globo

O cantor Renato Vianna, vencedor do The Voice 2015, continua na batalha pelo sucesso

FERNANDA LOPES

Publicado em 20/12/2017 - 5h30
Atualizado em 20/12/2017 - 9h09

Nesta quinta-feira (21), o sexto vencedor do The Voice Brasil será escolhido pelo público da Globo. Desde a primeira temporada, em 2012, vários artistas foram revelados no programa, mas nenhum conseguiu fazer sucesso expressivo. Falta de planejamento, de divulgação e de comprometimento da própria Globo são alguns dos fatores que explicam por que as carreiras dos ex-The Voice não decolam, apontam artistas e produtores musicais.

"Um artista de reality nasceu na TV, então o primeiro lugar dele tem que ser em programas, nesse caso da Rede Globo. Tem que estar cantando em todas as atrações da casa. Mas o que tem acontecido é que os caras ficam vendidos, ganham e ficam esperando. Na realidade, as emissoras só estão preocupadas com a audiência, não com o sucesso do cara que ganhou. Deu audiência, já era", diz o produtor Rick Bonadio.

"Uma coisa muito importante em um reality é ter uma estratégia de lançamento para o vencedor. Os realities sempre têm contrato com gravadoras, mas como os artistas não são escolhidos pelos diretores delas, não existe um comprometimento de trabalharem esses caras", continua Bonadio, dono de gravadora e ex-jurado de realities musicais.

"Durante o programa, a gravadora já tem de analisar quem tem chances e buscar repertório, ir preparando alguns participantes para, assim que alguém ganhar, já ter as músicas, entrar em estúdio, lançar logo um single e fazer um disco rápido. Se não tem isso, o processo se dá com muita lentidão e acontece uma coisa muito grave, que é perder o timing do lançamento da pessoa que ganhou", completa.

Além da falta de conteúdo musical, os vencedores do programa recebem pouco apoio da própria emissora. Após a final, em geral eles só participam do Encontro com Fátima Bernardes. Não vão a outras forças do entretenimento da Globo, como o Caldeirão do Huck e o Domingão do Faustão.

"Essa questão a gente ainda não entende. Mas. enfim, precisa de um planejamento bom. Ainda não desvendei isso", declara Renato Vianna, vencedor do The Voice em 2015.

Quatro meses após o reality da Globo, Vianna lançou um single, mas não explodiu. Exemplo real da falta de planejamento para a carreira, trocou de gravadora e até de estilo _mudou de gospel para sertanejo pop.

O cantor lançou um CD em novembro de 2016, mas não teve espaço na Globo para divulgar o material. Só apareceu novamente em rede nacional na emissora no próprio The Voice, em setembro deste ano, com um depoimento sobre sua experiência no programa.

reprodução/band

O produtor musical Rick Bonadio no X Factor Brasil, exibido pela Band no ano passado

E nos EUA?
O The Voice Brasil é um formato importado da Holanda, que se tornou mais popular pela versão norte-americana, no ar desde 2011. Também por lá, poucos vencedores fazem sucesso após o programa, e os que o conseguem são mais em seus nichos, como os cantores de música country. 

Nos Estados Unidos, a relação com as gravadoras é até mais próxima _vários participantes que não ganharam também atraem olhares das empresas e fecham negócio. Mas as questões do cuidado com o artista e de divulgação na mídia também deixam a desejar.

"Pelo fato de o The Voice ser da NBC, outras redes como CBS e ABC não vão convidar os artistas. As emissoras são tão competitivas entre si que [o vencedor] precisa não só do apoio de uma gravadora, mas da certeza de que a rede está ao seu lado e continuará além desse programa. Se a pessoa só pode participar do Today Show ou outra plataforma da NBC, fica limitada", disse um representante da gravadora Big Machine ao site Huffington Post.

Os técnicos do The Voice norte-americano até tentam ajudar nas carreiras de seus pupilos e costumam manter contato com eles, mas ainda assim não é fácil. 

"Após o The Voice, há problemas. Tem algumas questões sérias aí, a continuação disso é uma bagunça. Gravadoras estão ferrando com a nossa indústria da pior maneira. O programa termina e eles ficam: 'OK, eles [vencedores] não importam mais para mim'. Isso me deixa completamente irritado", disse Adam Levine, vocalista do Maroon 5 e técnico do The Voice, em entrevista ao programa de rádio de Howard Stern, em 2015.

reprodução/gshow

Os quatro finalistas do The Voice 2017 durante participação no É de Casa, no sábado (16)

Vale a pena?
Apesar de todos os problemas, tanto produtores quanto cantores acreditam que ainda há vantagens em participar de reality shows musicais, que nos últimos anos têm perdido relevância na TV, com excesso de formatos e temporadas.

"Eu continuo achando que vale a pena o reality, dá uma experiência legal para os caras que participam e dá uma chance de serem vistos", afirma Bonadio, que foi jurado do Popstars (2002-2003), do Ídolos (2011), do Fábrica de Estrelas (2013) e do X Factor Brasil (2016). 

Renato Vianna também avalia positivamente sua experiência no The Voice Brasil em 2015 (além de ainda ter guardada a maior parte do prêmio de R$ 500 mil que levou). "Um reality abre muitas portas, recursos pra investir na carreira, porque precisa de dinheiro, de pessoas do meio pra ajudar. Quem não tem visibilidade não tem isso. Pra mim foi bem legal", afirma. 

A cantora Kelly Clarkson, que fez carreira bem-sucedida após ganhar a primeira temporada do American Idol, em 2002, será jurada do The Voice nos EUA em 2018 e acredita que não há fórmula para fazer um artista dar certo após o programa. 

Mas, para Bonadio, se programas como o The Voice quiserem ser mais relevantes na TV e na indústria musical, é necessário mais comprometimento e investimento de todas as partes envolvidas. 

"A partir do momento em que o cara sai do reality, ele passa a ser um artista que vai concorrer com todos os outros. O que precisa ter? Uma puta música boa, um hit. Precisa de um trabalho artístico, de marketing maciço, de os candidatos compositores mandarem músicas, de um trabalho da gravadora. A exposição sem conteúdo musical não resolve nada", declara.

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