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Baixinhos, tchau

Grade infantil diária perde 29% de espaço na TV aberta em dez anos

Fotos: Divulgação

Patati e Patatá seguram Maisa, no SBT; atração com palhaços saiu do ar e apresentadora está na geladeira - Fotos: Divulgação

Patati e Patatá seguram Maisa, no SBT; atração com palhaços saiu do ar e apresentadora está na geladeira

PAULO PACHECO

Publicado em 11/10/2013 - 17h55
Atualizado em 12/10/2013 - 3h00

RESUMO: Nos últimos dez anos, as emissoras abertas reduziram em 29% a programação destinada às crianças. Mesmo com menos programas infantis, a criança passa 5 horas e 22 minutos na frente da TV. A restrição à publicidade e o baixo retorno comercial são as causas da redução da grade, que migrou para a TV paga

A criança está perdendo espaço na TV aberta. Nos últimos dez anos, a programação infantil de segunda a sexta-feira perdeu 29% de espaço nas seis principais emissoras do país (Globo, Record, SBT, Band, Cultura e Rede TV!). Encolheu quase um terço.

Em 2003, as emissoras abertas dedicavam, juntas, 23 horas e 50 minutos da programação para atrações infantis. Dez anos depois, esse tempo caiu para 17 horas e 10 minutos.

Líder em horas destinadas para a criança, a TV Cultura, que tinha 10 horas diárias de programação infantil, tirou neste mês duas horas para estrear novos programas jornalísticos.

Excluindo-se a Cultura, a queda é ainda maior. A grade infantil diária nas emissoras comerciais despencaram 53%, chegando atualmente a 6 horas e 30 minutos.

Globo e Record reduziram a zero os programas infantis diários e passaram a exibir apenas nos finais de semana. Nesse ínterim, a Record estreou o Hoje em Dia (2005), e a Globo trocou a TV Globinho pelo Bem-Estar (2011) e o Encontro (2012).

Até no SBT, emissora comercial que mais dedica horas para a criança, a programação infantil perdeu espaço. Nos últimos dez anos, a grade infantil diminuiu 49%. Nesse intervalo, o SBT lançou um programa com os palhaços Patati Patatá e ressuscitou o Bozo, mas atualmente os três palhaços estão fora do ar.

A única emissora que aumentou o espaço à programação infantil diária foi a Band, que em 2003 tinha apenas 30 minutos e atualmente destina duas horas para a criança. A Rede TV!, que não tinha programação infantil, chegou a transmitir o TV Kids, que saiu do ar em março deste ano.

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Com criança, sem anunciante

Embora o espaço para programação infantil tenha diminuído na TV aberta, as crianças ficam cada vez mais tempo na frente da televisão, segundo o Ibope. Em 2012, elas permaneceram, em média, 5 horas e 22 minutos, um crescimento de 8,6% em cinco anos.

Diretora do núcleo infantil do SBT, Silvia Abravanel aponta um fator comportamental para a redução do espaço das crianças na grade. Diz que as crianças de hoje estão muito “adultas” para a idade delas. “Em virtude desse amadurecimento precoce, as crianças buscam coisas que não são para a idade delas”, explica a diretora.

Essa mudança, entretanto, não explica a extinção de programas infantis. No SBT, a novela Chiquititas tem média de 12 pontos de audiência, mesmo índice obtido pela antecessora, Carrossel. A causa está nos anunciantes.

Durante a exibição de Carrossel, que chegou a ter capítulos com metade do tempo de exibição destinados a inserções publicitárias, o Conar (Conselho Nacional de Autorregulamentação Publicitária) ordenou a retirada comerciais que julgava inapropriados para crianças. Em Chiquititas, o SBT faz anúncios apenas com personagens adultos.

“Com essa fiscalização mais efetiva, a falta de anúncios leva até a extinção da programação infantil na TV aberta. Não é uma causa direta, mas houve uma coincidência. Existe uma preocupação das emissoras com isso”, reconhece Ekaterine Karageorgiadis, advogada da área de Defesa do Instituto Alana, ONG voltada à proteção da criança.

Percebendo a migração do público para a TV paga, a Globo lançou na TV fechada o canal infantil Gloob em junho de 2012, mesma época em que trocou a TV Globinho pelo programa de Fátima Bernardes.

“A programação [na TV aberta] dava uma baixa audiência e baixo retorno publicitário. Hoje temos uma faixa pela manhã mais adulta e que gera mais receita”, explica Willy Haas, diretor-geral de negócios da TV Globo.

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Futuro está na TV paga

Enquanto na TV aberta a criança perdeu espaço, na TV por assinatura, em dez anos, o número de canais infantis saltou de seis para 16.

O público acompanhou a mudança. Entre 2008 e 2012, o tempo médio das crianças na frente dos canais pagos subiu de 2 horas e 18 minutos para 3 horas e 4 minutos, um crescimento de 33%.

“A programação infantil migrou para a TV fechada. Lá tem canal com 24 horas só com programação infantil. Não tem porque [existir] uma programação infantil de três, quatro horas em determinado horário [na TV aberta]”, diz Haas, da Globo.

A justificativa faz sentido em grandes centros urbanos, como São Paulo, onde a TV por assinatura já está em 50% dos lares. Mas, na média nacional, a penetração do serviço ainda é baixa (30%). Nos Estados mais periféricos, não chega a 10%. Ou seja, tem muita criança sem acesso a programação infantil.

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