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Memória da TV

Em 1985, novela com primeiro selinho entre homens sofreu intervenção

Geraldo Modesto/TV Globo

Carlos Kroeber, de terno, com os travestidos Ney Latorraca, Antônio Pedro e Marco Nanini - Geraldo Modesto/TV Globo

Carlos Kroeber, de terno, com os travestidos Ney Latorraca, Antônio Pedro e Marco Nanini

THELL DE CASTRO

Publicado em 25/10/2015 - 9h00

Imagine, nos dias de hoje, uma novela das sete marcar entre 50 e 60 pontos de audiência e ser considerada ruim, sofrendo intervenções. Pois foi o que aconteceu com Um Sonho a Mais, exibida pela Globo em 1985 e que tinha como principal inovação Ney Latorraca interpretando cinco personagens. A trama também é lembrada por ter atores (Latorraca, Marco Nanini e Antônio Pedro) travestidos de mulheres. Para muitos, é considerada a primeira novela a exibir um beijo gay _na verdade, um discreto selinho entre dois homens.

Em busca de novos autores, a emissora apostou em Daniel Más (1944-1989), jornalista espanhol naturalizado brasileiro, que teve uma badalada coluna social na imprensa nos anos 1970 e estreava como autor de novelas. O argumento era de Lauro César Muniz.

Na trama, que estreou dia 4 de fevereiro de 1985 e era inspirada na peça Volpone, de Ben Jonson, o excêntrico milionário Antônio Carlos Volpone (Ney Latorraca) volta ao Brasil após 18 anos para esclarecer o assassinato do sogro, Telles (Rubens Corrêa), do qual era acusado, e se reaproximar da ex-mulher Estela (Sylvia Bandeira), casada com outro homem.

Ao chegar, comunica a todos que tem uma doença contagiosa, o que é mentira. Para despistar seus inimigos e circular livremente, usa quatro disfarces: a executiva Anabela Freire, o médico Nilo Peixe, o industrial Augusto Melo Sampaio e o motorista André Silva.

A novela apostava no humor, era recheada de citações à alta sociedade carioca, mas não tinha grandes ganchos para convidar o telespectador para o próximo capítulo. Não deu certo. O público rejeitou as inovações e a audiência, para os padrões da época, não foi considerada satisfatória. Resultado: Más foi afastado e Muniz, convocado para tentar salvar a trama a partir do capítulo 38.

Susana Vieira e Ney Latorraca em Um Sonho a Mais

"Na verdade, tratou-se de uma decisão empresarial, que nem sequer representou uma troca de autores, pois Lauro César participou da criação da história", explicou o então diretor-geral da divisão de novelas da Globo, Francisco Mário Sandrim, à revista Veja de 6 de março de 1985.

No entanto, a publicação apurou que o grupo de discussão promovido pela emissora não foi nada favorável à trama. "Como a amostra de público não apresentou identificação com a história e deu sinais de ignorar os grã-finos mencionados nos diálogos, optou-se por uma reversão imediata", revelou a reportagem.

Nas mãos de Muniz, a novela diminuiu a incidência de grã-finos e aumentou os cuidados com os suspenses internos e finais de cada capítulo. “Um trabalho de carpintaria a que Más não estava habituado”, pontuou a Veja.

A guinada na trama não mudou muito o panorama de Um Sonho a Mais. Ficou a lembrança do núcleo de personagens masculinos travestidos de mulheres _além de Anabela, existiam suas "irmãs" Florisbela (Marco Nanini) e Clarabela (Antônio Pedro). E um rápido selinho entre Anabela e Pedro Ernesto (Carlos Kroeber), considerado, por muitos, o primeiro beijo entre dois homens na televisão brasileira. Os personagens, inclusive, se casaram.

A novela teve 153 capítulos e ficou no ar até 3 de agosto de 1985.

Apesar do incidente, Daniel Más permaneceu na equipe de autores da Globo e escreveu a novela Bambolê, em 1987, e episódios das séries Armação Ilimitada e Tarcísio e Glória. Ele morreu em 4 de fevereiro de 1989, aos 45 anos, vítima de complicações decorrentes de Aids.


THELL DE CASTRO é jornalista, editor do site TV História e autor do livro Dicionário da Televisão Brasileira (Editora InHouse). Siga no Twitter: @thelldecastro


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