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Conversa comprada

Áudio da PF flagra diretor de jornalismo da Record negociando verba do governo

Divulgação/Record TV

Vice-presidente de jornalismo da Record, Douglas Tavolaro pediu verba governamental - Divulgação/Record TV

Vice-presidente de jornalismo da Record, Douglas Tavolaro pediu verba governamental

REDAÇÃO

Publicado em 2/6/2017 - 18h01

Vice-presidente de jornalismo da Record, Douglas Tavolaro teria negociado com o senador afastado Aécio Neves, do PSDB, uma entrevista com o presidente Michel Temer em troca de patrocínio da Caixa Econômica Federal à programação da emissora. As conversas, divulgadas nesta sexta (2) pelo site BuzzFeed Brasil, ocorreram em dia 19 de abril e foram grampeadas pela Polícia Federal, que investigava Neves por ter pedido R$ 2 milhões ao empresário Joesley Batista, um dos donos da JBS.

Notícias da TV apurou que, antes da conversa grampeada, Tavolaro já havia ido até Brasília e conversado com Aécio Neves para que o senador negociasse, no governo, um investimento de R$ 250 milhões em publicidade de ministérios e estatais na Record durante 2017. O patrocínio da Caixa estaria nesse pacote.

Na época das conversas grampeadas, Temer estava no centro de uma grave crise política, já que a delação da Odebrecht tinha sido divulgada na semana anterior.

Para controlar os danos, o presidente deu uma série de entrevistas exclusivas à televisão: no dia 15, falou à Band; no dia 17, ao jornalismo do SBT; no dia 28, ao Programa do Ratinho.

A conversa com a Record entraria nessa série se a Caixa comprasse uma cota de patrocínio na emissora _o espaço publicitário vendido a organizações estatais costumam ser mais caro do que o negociado com empresas privadas. Como o patrocínio não foi aprovado, a entrevista com o presidente também não ocorreu.

O BuzzFeed divulgou três áudios, realizados em um intervalo de dez minutos. No primeiro, entre Tavolaro e Aécio, o executivo da Record conta que está recebendo ligações do ministro Moreira Franco (da Secretaria-Geral da Presidência), mas que não iria atendê-lo.

"Eu já deduzo qual seja o assunto. Ele ligou para o nosso presidente e pediu para a gente tentar colocar nosso número um numas entrevistas (...). Eu estou muito sem graça de falar com ele. Vou ter que passar isso para cima e a situação está parada", reclama Tavolaro.

"Não tem como você empurrar um pouquinho, ou pelo menos ouvir o que ele tem para dizer?", pede Aécio. "Eu já tenho o retorno. O nosso presidente aqui não vai conseguir fazer [a entrevista]. Só tem um jeito de sair. Se tiver uma coisa, entendeu?", responde o executivo, dando a entender que a conversa com Temer só será realizada se o pacote de patrocínio for aprovado.

Aécio emenda o primeiro telefonema com outro, para Moreira Franco. Na conversa, deixa claro que esse tipo de negociação não deveria ser feita daquela maneira. "É aquelas coisas que não precisa falar por telefone (...). Mas você entrou nesse circuito com o cara da Caixa?", questiona Aécio. Franco confirma: "Já entrei. Entrei hoje. Peça para ele [Tavolaro] me ligar".

O senador retorna a ligação para Tavolaro e repassa o conteúdo da conversa com Franco.

"Liguei para ele e (...) falei que você estava constrangido de ele pedir outra coisa e você ter que dizer não. Você recebe ordens. Tem toda a boa vontade, mas não é o dono (...). Deixa passar hoje para não parecer ansiedade. Aí você liga amanhã de manhã, fala que recebeu o recado (...). Eu disse a ele [Franco] o seguinte: é o assunto Caixa, o assunto paralelo, que nada tem a ver com o que você está tratando [a entrevista com Temer]".

"Ele está juntando num pacote. Não tem problema. Se ele juntar o pacote [de patrocínios] e sair, eu agito o nosso cá [entrevista], entendeu? Porque eu acho importante a estratégia dele [de Temer falar com as emissoras]", responde Tavolaro.

A prática de negociar entrevistas em troca de favores econômicos não é exclusiva de Tavolaro e também é realizada por outras emissoras. Mas chama a atenção que o executivo de jornalismo da segunda maior rede do país tenha se sujeitado a negociar publicidade na emissora, tarefa que compete ao departamento comercial.

Tavolaro é um homem forte dentro da Record, apontado como futuro presidente da emissora. É próximo de Edir Macedo, dono da emissora, de quem escreveu duas biografias (O Bispo e Nada a Perder). Atualmente, produz o filme que está sendo rodado sobre a vida do bispo.

Procurada, a Record negou, por meio de nota, que tenha negociado patrocínio em troca de entrevistas.

"Houve uma solicitação de entrevista com o presidente Michel Temer e a RecordTV queria ter a exclusividade e prioridade, naquele momento, e não foi atendida.

O vice-presidente de jornalismo, Douglas Tavolaro, trabalhava com suas fontes para conseguir as informações e a primazia. O Planalto estava decidindo, através de outra estratégia, de colocar o presidente para falar, quase simultaneamente, com todos os veículos, como de fato aconteceu com várias emissoras de TV, rádio, jornais e sites.

Por mais que o vice-presidente de jornalismo da Record TV tenha elogiado a estratégia, ele defendeu, junto a suas fontes, o desejo de falar primeiro e exclusivamente com o presidente. Como o Palácio do Planalto optou por outro formato, a RecordTV decidiu não fazer a entrevista.

Com relação à Caixa Econômica Federal, é um cliente histórico da emissora e o departamento comercial da RecordTV trata diretamente com a instituição e seus representantes publicitários, como acontece em qualquer outro veículo de comunicação", informa a nota, que critica o vazamento da conversa, já que "o sigilo das relações entre um jornalista e sua fonte são resguardadas pela Constituição Brasileira".

Ao BuzzFeed, a Caixa Econômica Federal também negou a negociação: "O ministro Moreira Franco solicitou à Caixa uma avaliação a respeito da possibilidade de patrocínio ao Grupo Record, que não foi atendido por não se enquadrar na política de patrocínio do banco", informou o banco por meio de nota.

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