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DESCRENTES DE MEIA-TIGELA

Apresentadores de talk shows se dizem ateus, mas já foram salvos por Deus

Imagens: Reprodução

Fábio Porchat (à esq.), Pedro Bial e Danilo Gentili em seus programas noturnos: fé em crise - Imagens: Reprodução

Fábio Porchat (à esq.), Pedro Bial e Danilo Gentili em seus programas noturnos: fé em crise

LUCIANO GUARALDO

luciano@noticiasdatv.com

Publicado em 12/5/2017 - 5h25

Pedro Bial, Fábio Porchat e Danilo Gentili têm mais em comum do que o fato de apresentarem talk shows quase no mesmo horário: os três levam uma relação duvidosa com a religião. Ateus assumidos, Bial disse que Deus salvou sua vida e Porchat lê a Bíblia e trabalha numa emissora ligada a uma igreja; já Gentili, que até pensou em ser pastor, decepcionou-se tanto com a fé que passou a fazer piadas controversas com judeus e evangélicos.

O ateísmo nos talk shows veio à tona no Conversa com Bial da última terça-feira (9), quando o apresentador entrevistou o humorista Vinicius Rodrigues e os cantores Priscilla Alcantara e Ton Carfi, todos evangélicos. Ao fim do papo, Bial convidou o professor Ricardo Mariano para expor sua opinião sobre o crescimento do universo gospel. "Um ateu na conversa... Mais um ateu", soltou o jornalista, em referência sutil ao fato de também não seguir uma religião.

A declaração pegou os fãs de Bial de surpresa, apesar de não ser a primeira vez que o apresentador fala sobre o tema: em 2011, no programa Marília Gabriela Entrevista, do GNT, o jornalista declarou que não acredita em Deus. "Tudo o que estudei até hoje me comprova que Deus não existe", disse.

Um discurso bem diferente do usado por Bial em abril de 2002, quando seu carro foi roubado por quatro homens armados e um deles chegou a disparar em sua direção; o tiro passou raspando em sua orelha esquerda e o jornalista se fingiu de morto para escapar. "Não gosto de usar essa palavra, mas foi um milagre. Achei que tinha morrido. Deus é meu amigo, né? Ele estava entre a bala e eu", declarou na época.

A "descrença seletiva" não é exclusividade do apresentador do Conversa: seu concorrente Porchat é ateu confesso, mas chama a atenção por ocultar sua posição antirreligião na hora de receber os salários da Record, emissora controlada pelo bispo Edir Macedo, da Igreja Universal.

Quando assinou contrato para apresentar o Programa do Porchat, ele tentou minimizar o conflito ético: "Vou ter a liberdade que a TV aberta me possibilita. Muita gente falou: 'Ah, vai poder falar de religião [no programa]?'. Mas que talk show fala de religião? É raríssimo", desconversou.

Porchat já falou de religião, porém, em uma entrevista à revista Playboy. Entre outras coisas, disse que gosta de estudar crenças e que leu a Bíblia. "Para mim, tudo isso é uma junção de coisas, de lendas e de histórias, que eram uma forma de ensinar as pessoas. E são lendas bacanas", opinou ele, que também considera o envolvimento de religiosos com a política um atraso para o país.

Já o apresentador do The Noite é um caso curioso: Gentili não se declara ateu publicamente, mas também não se identifica com nenhuma religião. Criado em família católica, largou a religião depois de ler a Bíblia. "Vi que não tinha nada a ver", contou no programa O Estranho Mundo de Zé do Caixão, no Canal Brasil, em 2012.

Depois, na juventude, perdeu o pai e a irmã em um intervalo de seis meses e, sem rumo, encontrou apoio na Igreja Batista, onde cogitou até virar pastor.

"Mas você vai percebendo que nas igrejas existem outros interesses, então me cansei de palhaçada e virei comediante", contou Gentili ao extinto Jornal da Tarde, para o qual se definiu como um "monoteísta freelancer" (ou seja, acredita em um único Deus, mas não o tempo todo, apenas quando lhe é conveniente).

Destaca-se o fato de o mais ligado à religião entre os três apresentadores de talk shows ser justamente o que mais faz piadas (e ofende) religiosos. Gentili já causou polêmica com judeus, comparando uma possível estação de metrô no bairro de Higienópolis, em São Paulo, com os trens que iam para o campo de concentração de Auschwitz, na Alemanha nazista. Também já irritou evangélicos com uma encenação do The Noite sobre o "milagre instântaneo", mais fácil de preparar que um pacote de macarrão instantâneo.

Pedro Bial, por sua vez, recebeu elogios por não usar de preconceito ao discutir o crescimento do gospel no programa de terça. "Bial é o ateu que você respeita porque ele respeita a fé das pessoas", escreveu uma fã de Priscilla Alcantara no Twitter.

O apresentador já havia promovido um debate entre religiosos e ateus no programa Na Moral, quando uniu o pastor Silas Malafaia, o padre Jorge Luiz Neves, o babalorixá Ivanir dos Santos e Daniel Sottomaior, presidente da Atea (Associação Brasileira de Ateus e Agnósticos).


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