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The Young Pope

Crítica: Com papa narcisista e ateu, série revela os pecados do Vaticano

Divulgação/HBO

O ator Jude Law em The Young Pope: papa fuma e joga sinuca em pleno Vaticano - Divulgação/HBO

O ator Jude Law em The Young Pope: papa fuma e joga sinuca em pleno Vaticano

DANIEL CASTRO

Publicado em 29/4/2017 - 7h10
Atualizado em 29/4/2017 - 9h48

Se tem uma pessoa na face da Terra que não pode duvidar da existência de Deus, essa pessoa é o papa. Mas Lenny Belardo, o primeiro papa norte-americano, não só duvida como se proclama onipresente e mais belo do que Jesus Cristo. Com apenas 50 anos, Belardo é Pio XIII, o jovem papa do título de The Young Pope, série que escancara os pecados do Vaticano. A coprodução da Sky da Europa com a HBO e o Canal+ será exibida no Brasil pelo canal Fox Premium.

Criada e dirigida pelo cineasta napolitano Paolo Sorrentino (A Grande Beleza, Juventude) e magistralmente protagonizada por Jude Law (dos filmes Sherlock Holmes), The Young Pope é cinema em dez episódios, um colírio para os olhos, uma massagem nos neurônios. Uma das melhores séries dos últimos anos.

Logo nas primeiras imagens, vemos um papa realmente belo, exibindo seu bumbum nos aposentos papais, tendo sonho erótico. Em sua homilia, ele choca os católicos com um discurso ultra-mega-prafrentex: defende a legalização do aborto e a união homossexual, o uso da camisinha, o hedonismo acima de tudo.

Mas é só um sonho, uma deliciosa ironia: Pio XIII, como era de se esperar pelo nome, é o oposto de tudo isso. À frente da Igreja Católica, endurece as regras para a admissão de seminaristas, e qualquer indício de tendência homossexual não é tolerada. Confunde homossexualidade com pedofilia _que também combate duramente.

Lenny Belardo, na verdade, é o suprassumo da contradição, e está aí um dos maiores trunfos de The Young Pope. Eleito pela força de um cardeal italiano, Voiello (Silvio Orlando), que vê nele alguém fácil de manobrar, Pio XIII se revela imprevisível, autoritário, ultraconservador. Sua primeira medida no Vaticano é esvaziar o poder de Voiello, o poderoso secretário de Estado que vive em um apartamento de 600 metros quadrados.

Belardo se inspira no artista pop Banksy e na banda eletrônica Daft Punk para adotar uma linha de marketing em que não mostra seu rosto diante da multidão na praça São Pedro, não permite fotografias, não dá entrevistas. Se imagina como um rock star, mas sua estratégia, aliada a um discurso amedrontador, de que se deve sofrer na Terra para encontrar Deus na eternidade, não dá certo, afugenta os fiéis.

Ao mesmo tempo em que é moderno, faz ginástica e bebe Diet Cherry Coke, Pio XIII é retrógrado. Ao mesmo tempo em que prega os princípios mais arraigados da crença em Deus, vive questionando a existência de Deus. E é capaz de se conectar com Deus. Por meio de suas orações, consegue milagres _e até matar.

Belardo, o papa narcisista que fuma e eventualmente se declara ateu, é o resultado de um trauma da infância. Foi abandonado pelos pais hippies em um orfanato católico aos sete anos. É um personagem rico, profundo, saboroso. Em The Young Pope, não há muita distinção entre o bem e o mal, o divino e o satânico.


The Young Pope estreia neste sábado, às 22h, no Fox Premium, que estará com sinal aberto em todas as operadoras; todos os episódios estarão disponíveis no aplicativo do canal

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