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Análise | Jornalismo

TV dá mais espaço para tortura dos EUA que para ditadura no Brasil

João Cotta/Rede Globo

Wiliam Bonner apresentou duas notícias sobre a Comissão da Verdade no Jornal Nacional de terça (9) - João Cotta/Rede Globo

Wiliam Bonner apresentou duas notícias sobre a Comissão da Verdade no Jornal Nacional de terça (9)

Por CARLOS AMORIM - Especial para o Notícias da TV

Publicado em 10/12/2014 - 11h01
Atualizado em 10/12/2014 - 12h42

A mídia brasileira tem dado mais espaço às torturas em Guantánamo (Cuba) e nas prisões secretas da CIA (agência de inteligência dos EUA) do que aos porões da ditadura tupiniquim. Ontem (9), na véspera da divulgação do relatório final da Comissão Nacional da Verdade (CNV), que lista 377 envolvidos em tortura, sequestro e assassinato, a imprensa brasileira reproduziu agências internacionais sobre crimes dos Estados Unidos contra suspeitos de terrorismo. 

Parece brincadeira. Mas a mídia do Patropi, nesta terça-feira (9), deu mais destaque às denúncias de violência política e tortura contra prisioneiros confinados na base americana em Guantánamo e contra suspeitos de terrorismo islâmico após 11 de setembro de 2001, do que aos crimes políticos cometidos no Brasil entre 1964 e 1985. Acredite se quiser: nesta quarta-feira (10), a CNV apresentou à presidente Dilma Rousseff um documento de centenas de páginas relatando os horrores sofridos por brasileiros durante a Ditadura Militar. Nele, trata de centenas de mortos e desaparecidos políticos, além de milhares de outras vítimas do regime militar. Dezenas de milhares. 

No entanto, os jornalistas encarregados dos telejornais e outras publicações brasileiras acharam mais importante denunciar a CIA e o governo da América, por causa dos crimes cometidos por George W. Bush, do que os massacres praticados no Brasil.

Louve-se o Jornal Nacional, da Globo, que rasgou um pouco do véu de silêncio que cobre essas violências há 50 anos. William Bonner destacou informações que revelam, com base no documento da CNV, a ocorrência de torturas no Brasil. O telejornal mostrou entrevista com uma ex-presa política, além de apresentar uma nova versão sobre a morte sob tortura do ex-guerrilheiro Stuart Angel Jones, filho da memorável estilista Zuzu Angel. 

Stuart Angel Jones, que tinha dupla cidadania, americana e brasileira, foi torturado até a morte na Base Aérea do Galeão, no Rio. Fazia parte de uma organização de resistência armada contra a ditadura, supostamente o Movimento Revolucionário 8 de Outubro (MR-8). Os restos mortais dele, segundo o JN, foram removidos para uma obra na pista da Base Aérea de Santa Cruz, também no Rio, onde foram “sepultados” sob dezenas de toneladas de cimento numa reforma da pista para aviões. Louve-se o Jornal Nacional e o Bonner pela coragem de devolver Stuart à história contemporânea do Brasil.  


CARLOS AMORIMé jornalista. Trabalhou na Globo, SBT, Manchete, SBT e Record. Ocupou cargos de chefia em quase todos os telejornais da Globo. Foi diretor-geral do Fantástico. Implantou o Domingo Espetacular (Record) e escreveu, produziu e dirigiu 56 teledocumentários. Ganhou o prêmio Jabuti, em 1994, pelo livro-reportagem Comando Vermelho - A História Secreta do Crime Organizado e, em 2011, pelo livro Assalto ao Poder. É autor de CV_PCC - A Irmandade do Crime. Criou a série 9 mm: São Paulo, da Fox. Atualmente, dedica-se a projetos de cinema.


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