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Análise | Teledramaturgia

A Lei do Amor recicla clichês e vira novela policial para impressionar o público

Reprodução/TV Globo

Os atores Reynaldo Gianecchini e Tarcísio Meira em capítulo de ontem (14) de A Lei do Amor - Reprodução/TV Globo

Os atores Reynaldo Gianecchini e Tarcísio Meira em capítulo de ontem (14) de A Lei do Amor

RAPHAEL SCIRE

Publicado em 15/10/2016 - 7h28

Após uma primeira fase que não chegou nem perto de ser arrebatadora, A Lei do Amor, a novela das nove da Globo, deixou de lado o romantismo central do casal Pedro (Chay Suede/Reynaldo Gianecchini) e Helô (Isabelle Drummond/Cláudia Abreu) para apostar forte na narrativa policial e conquistar mais audiência do que os números registrados até então. Para tanto, porém, o folhetim faz uso de conhecidos recursos do gênero e disfarça seus clichês com tintas mais fortes.

No prólogo da história, houve certo exagero na caracterização dos atores que beirou o artificialismo, dando um ar de novela mexicana. A cena em que Helô flagrou Pedro na cama com Suzana (Regina Duarte), pelo menos, fugiu do dramalhão típico ao trocar o escândalo pelo sofrimento silencioso da mocinha. Vinte anos se passam e Suzana, agora na pele de Regina Duarte, sofre um atentado ao lado de Fausto (Tarcísio Meira). É o famoso “quem matou?”, isca fácil para prender o público e que em A Lei do Amor é apresentado através de uma narrativa policial vertiginosa, cheia de acontecimentos.

Além disso, Helô agora é casada com Tião (José Mayer), um dos vilões da trama, com quem tem uma filha insuportavelmente mimada. Já está claro que ela sofrerá horrores nas mãos do empresário e não é preciso acompanhar a história para saber o calvário que virá pela frente. O alicerce principal de A Lei do Amor está justamente nos clichês que as telenovelas adoram explorar e, se à primeira vista eles não chamam a atenção, ao longo do tempo são capazes de movimentar a história e fisgar o telespectador. Infalíveis.

Ponto positivo da narrativa, o texto de Maria Adelaide Amaral e Vincent Villari não escancara, pelo contrário, deixa subentendido os meandros da trama. Embora os mocinhos sejam claramente delineados, os vilões ganharam camadas que podem ser desvendadas ao longo da narrativa. A novela foge, assim, de ser maniqueísta e dá ao público a oportunidade de sacar a personalidade de cada personagem. Magnólia (Vera Holtz) é o melhor exemplo dessa dubiedade: é vilã, aparentemente, mas já deu mostras de seu lado humano ao justificar seus atos em nome de sua família.

A novela conta, ainda, com o carisma da protagonista, Cláudia Abreu. O elenco, apesar de numeroso, é defendido por bons atores. Além do destaque a Vera Holtz, que desliza entre a tensão e o cinismo com a mesma facilidade, vale a atenção ao desempenho dramático de Denise Fraga (Cândida) e de Tarcísio Meira na primeira fase. Claudia Raia (Salete) surge mais comedida do que o habitual e ainda não deixou claro se a personagem pende para o humor ou para o drama.

Diversão à parte, a trilha sonora, assim como em Velho Chico, mostra-se um importante ponto complementar de composição da narrativa. Já a direção de Denise Saraceni parece injetar no público uma dose de realidade. Não há mais a poesia da trama anterior e essa “crueza” da câmera vem a calhar com a composição política da história, a ser desenvolvida, e principalmente com o ar misterioso que a narrativa policial, mais racional, pede. Cenas clipadas aumentam, ainda, a sensação de movimentação na história.

Ao priorizar os segredos que a família Leitão procura esconder em detrimento do romantismo do casal central, A Lei do Amor ganha profundidade e lembra um pouco A Próxima Vítima (1995), novela da qual Maria Adelaide Amaral foi colaboradora. Mudar o foco da narrativa do romance para o policial é um recurso arriscado, mas uma novela que joga com o telespectador é muito mais interessante do que outra que apenas dá aquilo que ele quer ver.


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