Haja Coração aposta no exagero para criticar deslumbre da fama

Logo no primeiro capítulo de Haja Coração, a nova novela das sete da Globo, Fedora (Tatá Werneck) foi capaz de parar o trânsito de São Paulo simplesmente porque queria fazer uma selfie. Depois de um vexame em sua festa de aniversário, na qual terminou com a cara enterrada no bolo, ela viu o número de seus seguidores nas redes sociais despencar. Diante da "tragédia", resolveu pular da Ponte Estaiada, em uma clara tentativa de chamar a atenção.

Fedora é mimada e faz de tudo para aparecer. É justamente pela ótica do exagero, beirando o tragicômico, que Haja Coração promove uma crítica à superficialidade da fama a qualquer preço, explorando o humor da personagem para tirar sarro da exposição a que muitas pessoas se sujeitam nas redes sociais em troca dos holofotes. A novela ganha com isso ao trazer à releitura de Sassaricando (1987) uma visão atualizada da sociedade de hoje.

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Em relação à trama original, Fedora certamente é a personagem que mais mudou e ganhou força como antagonista de Tancinha (Mariana Ximenes). Menos maliciosa e ninfomaníaca do que a original de Cristina Pereira, a Fedora da vez joga ainda mais forte com o deslumbre e o exagero, características típicas de quem luta por 15 minutos de exposição.

Tatá Werneck apostou alto no histrionismo para garantir o riso. Mesmo que a atriz tenha algumas limitações de interpretação (o sotaque paulistano forçado e a repetição de personagens anteriores), Fedora acaba sendo beneficiada pelo excelente talento cômico de Tatá.

A parceria com Gabriel Godoy (Leozinho) também deu liga. Godoy vem de um histórico crescente na televisão: depois de uma estreia bem sucedida em Alto Astral (2014), em que chamou a atenção ao lado de Monica Iozzi, e uma passagem rápida pela série O Negócio (HBO), o ator volta às novelas investindo novamente no lado cômico. E o melhor: sem resquícios de seus personagens anteriores.

Ainda em relação à importância de Fedora na trama, não tem como deixar de mencionar o trabalho de Mariana Ximenes, que ainda deve dividir muitas cenas com Tatá Werneck, balanceando o duelo de forças entre a "patricinha mimada" e a "feirante batalhadora".

raphael dias/gshow

Mariana Ximenes em Haja Coração; atriz faz a personagem da trama mais difícil de interpretar

Mariana tem em mãos a personagem mais difícil da novela. Primeiro porque Tancinha foi emblemática na televisão em uma interpretação inesquecível de Claudia Raia. Na versão atual, mesmo que os trejeitos de Tancinha não sejam tão exacerbados como os de Fedora, percebe-se ali uma linha cômica, ainda tímida nesse começo da trama.

Personagem tipo que é, Tancinha é um desafio e tanto na carreira da atriz. Comparações com a original não faltarão, tampouco críticas em relação à prosódia, que Mariana soube dosar bem. A dificuldade da personagem está justamente na composição: do figurino ao jeito de andar, tudo ali tem de ser pensado e ajustado conforme o desenrolar da história.

Ainda que Haja Coração, à primeira vista, possa parecer datada, a novela ganha terreno ao apostar no exagero para promover críticas a uma sociedade ávida por aparecer, nem que para isso seja preciso se expor de qualquer maneira.

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