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Análise | Teledramaturgia

Globo erra estratégia e prejudica a série Nada Será Como Antes

Reprodução/TV Globo

A atriz Débora Falabella em cena do episódio da última terça (22) de Nada Será Como Antes - Reprodução/TV Globo

A atriz Débora Falabella em cena do episódio da última terça (22) de Nada Será Como Antes

RAPHAEL SCIRE

Publicado em 26/11/2016 - 6h50
Atualizado em 26/11/2016 - 17h10

Uma das produções mais esmeradas e sofisticadas que a Globo exibiu em 2016, Nada Será Como Antes, série que vai ao ar nas noites de terça feira, sofre com a pouca repercussão e índices de audiência abaixo do esperado. Em partes, a patinada da obra dirigida por José Luiz Villamarim se deve a um erro de estratégia da própria emissora.

Nada Será Como Antes conta a história de Saulo (Murilo Benício), um visionário que, no auge dos anos 1950, decide implantar uma televisão no Brasil. Casado com Verônica (Débora Falabella), inicialmente uma atriz de rádio, ele a transforma na principal estrela da Guanabara, sua emissora fictícia.

Só que o casamento dos dois entra em crise e ela engravida de outro homem, um ator americano. Verônica, então, decide ter o filho sozinha e sofre com o preconceito moralista da sociedade da época. É um melodrama típico, com todas as cores e tons que o gênero tem direito.

Todo o glamour da série, com figurinos deslumbrantes e cenários estonteantes, é uma licença poética dos autores Guel Arraes e Jorge Furtado para retratar uma época da TV brasileira marcada sobretudo por perrengues de amadores que aprenderam a fazer televisão na prática e na marra.

Até aí, o brilho extra conta a favor do produto e faz com que o público embarque na história, que é muito bem escrita, por sinal. O problema é que a trama poderia muito bem ser apresentada como uma novela de época, com todas as reviravoltas que o melodrama enraizado permitiria.

Entra aí o primeiro erro estratégico da Globo: a narrativa de Nada Será Como Antes bebe diretamente na fonte das novelas e segue muito mais folhetinesca do que seriada. Os episódios não se fecham em si, deixam sempre um rabicho de expectativa para o que será apresentado na semana seguinte. A obra funcionaria muito melhor se tivesse sido apresentada como minissérie, com capítulos exibidos dia após dia.

Além disso, toda a sofisticação que salta aos olhos pode também ter afugentado o público. Para se ter uma ideia, no episódio do dia 18 de outubro, quando Verônica conhece o astro americano de quem engravidaria, uma sequência enorme entre os dois foi exibida com boa parte dos diálogos em inglês, sem nenhuma legenda. Isso, para um veículo de massa cujo público é o mais diverso possível, é um risco enorme.

Afora isso, Nada Será Como Antes é um primor em termos de texto, direção e atuação. Bruna Marquezine (Beatriz) está excelente na pele de uma atriz carreirista que não mede esforços para conseguir o que quer, humanizada, porém, com a relação amorosa que mantém com a mãe, Odete (Cássia Kis). O mesmo pode-se dizer do trabalho de Murilo Benício, contido e real ao mesmo tempo.

Nada Será Como Antes é uma série leve e sem a menor pretensão de ser didática. Seu único compromisso é com o entretenimento, o que ela cumpre com satisfação. É um biscoito fino, mas mal servido pela Globo.


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