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Artigo | Carlos Amorim

Fazer televisão ou fabricar pneus?

Divulgação/ABTA

O empresário Roberto Irineu Marinho em discurso em evento de TV por assinatura em 2010 - Divulgação/ABTA

O empresário Roberto Irineu Marinho em discurso em evento de TV por assinatura em 2010

CARLOS AMORIM, ESPECIAL PARA O NOTÍCIAS DA TV

Publicado em 13/1/2014 - 19h07
Atualizado em 25/1/2014 - 21h00

O discurso de fim de ano do presidente das Organizações Globo, Roberto Irineu Marinho, aos executivos do grupo, apesar de otimista, antecipa o drama de que as empresas de mídia vão viver no país ainda nesta década: o choque entre o mundo analógico, com métodos conservadores de comunicação, e o mundo virtual e interativo, muito mais atraente para o público.

O que se viu, nos anos recentes, foi a vitória esmagadora da tecnologia voltada à informação e ao entretenimento. E tendo como consequência direta a quase total desarticulação dos modelos tradicionais. Muita gente, hoje em dia, se informa mais na internet e na blogosfera do que no noticiário tradicional. E nisso há um grande perigo: na estrada virtual, o boato substitui o fato _e a fofoca substitui a verdade. Mas a base da informação e do prazer no mundo moderno passa por essa via.

Nas empresas de papel _jornais e revistas_ ocorre um encolhimento da circulação e perda constante de assinantes. Isso já dura mais de dez anos. Em 2012, houve uma recuperação no faturamento dessas companhias, que se capitalizaram um pouco. Mas a crise continua: quando lemos os jornais, pela manhã, vemos que estão “velhos”, porque todas as notícias saíram na TV e na internet. A mídia impressa diária, que deveria se transformar em veículos de opinião e temas exclusivos, ainda não encontrou a saída. E com as revistas semanais acontece o mesmo. Roberto Irineu Marinho, no discurso, chegou a falar em “medo do futuro” nas empresas de mídia.

Na mídia eletrônica o drama é ainda maior. Já temos 270 milhões de telefones celulares, milhões a mais que o número de habitantes. Tablets e smartphones dominam o mercado. Compramos mais televisores do que fogões e geladeiras. As redes sociais, finalmente, criaram a aldeia global.

A informação virtual tomou de assalto as escolas, a indústria automobilística, as ruas e os locais de trabalho. Num cenário como esse, não é fácil sobreviver à custa de velhas fórmulas de sucesso. Frase profética de Roberto Irineu: “Não me interessa o que a Globo será daqui a cinco anos”, porque o empresário está querendo saber o que vai acontecer com ela daqui a 20 anos. E ele disse mais: não existem dois mundos _o analógico e o virtual: “só existe um, o digital”.

Roberto Irineu Marinho, em seu pronunciamento, que foi desconhecido pela mídia em geral, deixou bem claro que a sobrevivência da Globo está ligada ao risco de romper formatos tradicionais e inovar. Mas com um cuidado: “continuará a ganhar o jogo quem dispuser dos melhores conteúdos de qualidade”. Ou seja: quebrar a vitrine, tornar-se mais interativo e moderno, mas com inteligência. É um desafio e tanto! O futuro é a balança.

Certa vez, durante uma convenção da Rede Globo, ouvi de Marluce Dias da Silva, superintendente da emissora, uma frase curiosa: “Quero saber se daqui a cinco anos vamos estar fazendo televisão ou fabricando pneus”. Entre o discurso de Marluce e o de Roberto Irineu, quase duas décadas se passaram. A luta continua, certo?


CARLOS AMORIMé jornalista. Trabalhou na Globo, SBT, Manchete, SBT e Record. Ocupou cargos de chefias em quase todos os telejornais da Globo. Foi diretor-geral do Fantástico. Implantou o Domingo Espetacular (Record) e escreveu, produziu e dirigiu 56 teledocumentários. Ganhou o prêmio Jabuti em 1994 pelo livro-reportagem Comando Vermelho - A História Secreta do Crime Organizado e em 2011 pelo livro Assalto ao Poder. É autor de CV_PCC - A Irmandade do Crime. Criou a série 9mm: São Paulo, da Fox. Atualmente, se dedica a projetos de cinema.


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