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Análise | Teledramaturgia

Enfadonha e didática, Liberdade, Liberdade exagera na aula de história

Paulo Belote/TV Globo

As atrizes Lilia Cabral e Andreia Horta em capítulo da novela Liberdade, Liberdade - Paulo Belote/TV Globo

As atrizes Lilia Cabral e Andreia Horta em capítulo da novela Liberdade, Liberdade

RAPHAEL SCIRE

Publicado em 16/4/2016 - 8h03

Antes mesmo de começar, Liberdade, Liberdade, novela das onze que estreou nesta semana na Globo, foi marcada por problemas. Dois supervisores de texto abandonaram o barco e sua autora principal, Marcia Prates, foi afastada da redação dos capítulos, função que sobrou para Mario Teixeira, recém egresso de I Love Paraisópolis (2015). Diante da dança das cadeiras, era de se esperar uma novela no mínimo confusa. O resultado apresentado no vídeo confirma essa expectativa pessimista.

Liberdade, Liberdade conta a história de Joaquina (Mel Maia/Andreia Horta), filha de Tiradentes (Thiago Lacerda). A menina, que vê o pai ser morto na forca pela Corte portuguesa após traição de Rubião (Mateus Solano), é salva por Raposo (Dalton Vigh) e levada a Portugal, onde é educada. De volta ao Brasil, ela retoma os ideais libertários do pai, numa trama que abraçará a história do país com um pouco de romance ficcional à maneira das novelas.

O elenco enxuto permite o desenvolvimento de tramas mais concisas. Apesar do didatismo, o texto fluiu e a prosódia foi carregada na medida certa _Marco Ricca (Mão de Luva) é quem melhor se adapta ao sotaque mineiro. A cenografia esmerada faz o telespectador viajar no tempo, mas a trama pode ganhar fôlego se apostar mais no folhetim e deixar a história do país como pano de fundo.

Uma boa referência de junção histórica e ficcional para a novela é a minissérie Anos Rebeldes (1992), que deu conta de retratar a Ditadura Militar (1964-1985) sem perder as rédeas do romance central. Não por acaso, Liberdade, Liberdade conta com Sérgio Marques como colaborador de Mario Teixeira. Marques foi também um dos autores de Anos Rebeldes, na equipe de Gilberto Braga.

É bem verdade que há ritmo na trama, mas Liberdade, Liberdade carrega um tom cívico e professoral que a torna um pouco enfadonha. Quando foge disso, destoa completamente do conjunto da trama, como na cena do bordel em que prostitutas se engalfinham no chão, ganhando ares de novela de Glória Perez.

Com fotografia um tanto soturna, a imagem na tela é marcada por uma certa sujeira, que se estende também para a caracterização dos atores, em especial ao trabalho realizado nos sorrisos, sem aquela assepsia de comercial de pasta de dente que a televisão gosta tanto. Nesse aspecto, a personagem de Maitê Proença (Dionísia) é o melhor exemplo. Embora Dionísia seja sensual, a atriz trouxe ainda uma composição física que a deixa completamente distante dos tipos femme fatale a que habitualmente dá vida. 

O elenco segura a onda. Chega a ser surpresa ver Leticia Sabatella (Antonia) em uma interpretação quase que animalesca. Mateus Solano é outro que chama a atenção pelo desempenho. Sem maneirismos de personagens anteriores, o ator construiu um vilão arquetípico, antagonista do herói e que, por ironia folhetinesca, irá se apaixonar justamente pela filha do homem que entregou à Corte. Já Lilia Cabral (Virgínia) tem presença em cena, mesmo que com um papel aquém de seu talento.

A reconstrução histórica do Brasil é sempre válida para um veículo de massa como a televisão, mas infelizmente nem sempre empolga. Liberdade, Liberdade vai exigir da sua equipe muita imaginação para temperar a trajetória de Joaquina sem se desviar do curso da História e muito menos fazer o telespectador bocejar e pescar diante do vídeo.


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