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Análise | Minissérie

Em grande momento, Juliana Paes torna Dois Irmãos mais palatável

Reprodução/TV Globo

Juliana Paes em Dois Irmãos; atriz é o maior destaque da minissérie exibida pela Globo  - Reprodução/TV Globo

Juliana Paes em Dois Irmãos; atriz é o maior destaque da minissérie exibida pela Globo

RAPHAEL SCIRE

Publicado em 15/1/2017 - 7h36

Para conseguir entender o principal conflito de Dois Irmãos, o dos gêmeos Omar e Yaqub (Matheus Abreu/Cauã Reymond), é preciso antes atentar para a importância de Zana (Juliana Paes/Eliane Giardini), a matriarca da família libanesa, berço dos irmãos que dão o título à obra, adaptação do livro homônimo de Milton Hatoum que a Globo estreou semana passada. Central na deflagração e na continuidade da tragédia de sua família, Zana pedia uma intérprete à altura.

Juliana Paes, apesar de assumir o papel por apenas três episódios, conseguiu imprimir um misto de sedução, intensidade e inquietude em um de seus melhores trabalhos na televisão até hoje. A atriz foi além da sensualidade, sua marca: com uma interpretação sensível, tornou a complexidade da série um pouco mais palatável ao mostrar as nuances carregadas de Zana: quase incestuosa e ao mesmo tempo protetora e amorosa com Omar, mas dura com Yaqub.

É da predileção de Zana por Omar que nascem os conflitos entre os gêmeos. Irascível, irresponsável, indomável, Omar é em tudo o oposto do irmão. O primeiro ponto de choque entre eles é a disputa pelo amor de Lívia (Monique Bourscheid). Ao ver que a jovem prefere Yaqub, Omar não se conforma e o agride, deixando em seu rosto uma cicatriz que passa então a diferenciá-los fisicamente.

O embate entre os dois, porém, vai além do clichê do gêmeo bom versus gêmeo mau e expõe, muito mais, o drama da família de Halim (Antonio Calloni/Antonio Fagundes). E aí, Zana novamente assume um papel chave. A opção da direção de Luiz Fernando Carvalho, por exemplo, deixa isso bastante claro. Ao priorizar planos mais fechados, focados nos detalhes, o diretor salienta, sobretudo, a angústia da mãe que vê, pouco a pouco, sua família em derrocada.

As cenas em que Eliane Giardini assumiu o papel de Zana já mais velha passaram a mesma sensação transmitida por Juliana: a de que a mãe é figura central para se compreender a minissérie em sua totalidade. As duas atrizes mimetizam-se para manter a unidade interpretativa, um trabalho em conjunto e cujo resultado foi arrebatador.

O trabalho de preparação de elenco, aliás, foi visível na passagem de tempo que ocorreu no episódio de quinta feira (12). Nas duas fases da série, os atores mantiveram trejeitos e até o tom da voz, como foi o caso de Maria Fernanda Cândido e Carmem Verônica (Estelita).

Mas se do elenco Dois Irmãos pede entrega, do público a exigência é principalmente pela atenção. Uma das maiores dificuldades de se adaptar o clássico de Milton Hatoum é a de levar para a televisão a narrativa não linear da obra.

Os acontecimentos, no livro, não são tratados de forma cronológica, mas embaralhados aleatoriamente para compor a história como um todo. A adaptação de Maria Camargo não desconstruiu a estrutura original e, assim como no livro, usa a narração de Nael (Irandhir Santos) para descortinar e dar ritmo à história que conta.

Em relação ao primeiro episódio, especificamente, a minissérie prezou pela estética, com lindas imagens, mas é preciso reconhecer que, ao apresentar o amor do jovem Halim (Bruno Anacleto) por Zana (Gabriella Mustafá), a narrativa tornou-se arrastada e por vezes beirou a incompreensão, com inúmeras e longas expressões em árabe. Pecou pelo excesso.

Exigir que o público se esforce para compreender o que é apresentado não é nem de longe um problema, pelo contrário: Dois Irmãos não nivela por baixo, dá a quem assiste a chance de montar o quebra-cabeça sozinho, além de ser mais uma prova de que a televisão não deixa nada a dever para outros meios audiovisuais.

Por outro lado, o risco que corre é o de afugentar os telespectadores, confusos com o vai e vem da história. Quem deixar de ver uma cena qualquer pode, por exemplo, ficar perdido com os acontecimentos seguintes.

Assim como a dualidade dos gêmeos protagonistas, a relação entre qualidade estética e compreensão presente em Dois Irmãos é seu ponto alto e também o mais complexo.


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