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ANÁLISE | TELEDRAMATURGIA

Canastrão, Francisco Cuoco dá show de vergonha alheia em Sol Nascente

Reprodução/Globo

Francisco Cuoco interpreta o personagem Gaetano em cena de Sol Nascente, da Globo - Reprodução/Globo

Francisco Cuoco interpreta o personagem Gaetano em cena de Sol Nascente, da Globo

RAPHAEL SCIRE

Publicado em 4/2/2017 - 6h22

É certo que, a essa altura da história, não se pode exigir muito de Sol Nascente, a novela das seis da Globo que cozinhou o público em banho-maria durante meses com uma trama insossa. Mas, se tem algo que ajudou o folhetim a não se tornar um completo desastre, foi o elenco, principalmente o time de veteranos.

Destacam-se aí Laura Cardoso (Sinhá), Aracy Balabanian (Geppina), Nívea Maria (Dona Mocinha) e Luis Melo (Tanaka) _mesmo tendo a ingrata tarefa de dar vida a um japonês. Francisco Cuoco (Gaetano), porém, é o ponto fora da curva do elenco experiente.

Em que pese o fato de ter anos de contribuições à teledramaturgia nacional, uma coisa é inegável: Cuoco está muito longe de ser um bom ator. Ele teve, sim, seu auge de galã, nos anos 1970 e 1980. Na época, seu carisma contou pontos e o tornou emblemático na televisão, uma espécie de galã institucional da Globo.

Respeitada sua trajetória no veículo, é possível notar que o ator passou a fazer uso de uma muleta de interpretação que não abandona em nenhum personagem desde Passione (2010). Todos os seus tipos dos últimos anos carregam uma espécie de gagueira misturada com soluços, cacoete que poderia muito bem ser evitado. Ficam todos iguais, e o ator parece que não se preocupa em diferenciá-los uns dos outros.

Como o patriarca de uma família italiana em Sol Nascente, o vexame que Cuoco passa é ainda maior: além da gagueira soluçada, ele mistura sotaques, vai do português ao italiano e deixa escapar até mesmo expressões em espanhol. Por exemplo: em uma cena exibida no dia 26 de janeiro, "investigazione" virou "investigación".

Ainda que misturar as línguas com expressões em português seja recurso recorrente em novelas com personagens estrangeiros, chama a atenção a inserção de um terceiro idioma nas falas de Gaetano. E olha que Cuoco nem precisaria ir muito longe para corrigir esse deslize, bastaria observar o trabalho de Emilio Orciollo Netto, ótimo como o detetive Damasceno. Fica então a dúvida: o desajuste de Gaetano é preguiça, falta de preparo ou desatenção da direção?

Melhor amigo de Tanaka, o italiano tinha tudo para ser um tipo sarcástico, principalmente quando contracena com o japonês, mais certinho. Mas as piadinhas cheias de duplo sentido que Gaetano deixa escapar esvaziam-se na boca do ator e beiram o ridículo.

Como se não bastasse a escorregada na interpretação do veterano, outro problema toma conta do núcleo familiar dos De Angeli: eles são praticamente a mistura da caricatura de personagens italianos de novelas dos anos 1980 com uma espécie de comercial de panetone exagerado, ainda que tenha ali um ou outro conflito inserido, como a presença de Loretta (Claudia Ohana), ex mulher de Vittorio (Marcelo Novaes).

Há, também, a exposição negativa que dão a Aracy Balabanian. A diferença entre o trabalho dela e o de Cuoco é gritante. Mesmo que Aracy esteja mais do que habilitada a viver mammas italianas, a atriz não precisava passar por essa vergonha alheia e certamente merecia um personagem melhor.

Francisco Cuoco está longe de ser o único problema de Sol Nascente, mas o ator bem que poderia deixar a canastrice de lado e se dedicar mais a seu Gaetano para evitar o ridículo de um personagem dramaturgicamente pobre. Com a bagagem que tem na carreira, a vergonha alheia que Cuoco deixa no público é completamente desnecessária. 


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