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Documentário colorido conta a história de Dorina Nowill, a cega de visão

Divulgação

A atriz Martha Nowill interpreta a avó, Dorina, em documentário dirigido por Lina Chamie - Divulgação

A atriz Martha Nowill interpreta a avó, Dorina, em documentário dirigido por Lina Chamie

DANIEL CASTRO

Publicado em 21/6/2016 - 4h48

Na primeira aula do curso de cinema que ministra em uma escola de São Paulo, Lina Chamie ensina como o filme Desencanto (Brief Encounter), dirigido por David Lean em 1945, conta uma história através do som. É mais ou menos o que ela faz em Dorina - Olhar para o Mundo, documentário que o canal Max estreia nesta terça (21), às 23h, sobre a trajetória de Dorina Nowill, uma mulher que transformou a vida de milhares de portadores de deficiência visual.

O som é um elemento narrativo de primeira grandeza em Dorina. Sons de turbinas de avião, por exemplo, permitem entender o que está acontecendo mesmo sem se ver as imagens. "Essa construção sonora é um desejo de contemplar a comunicação com o cego", explica Lina Chamie. Dorina tem audiodescrição, mas não apresenta legendas, nem para identificar os entrevistados, porque seria "uma puxada de tapete" no público-objeto. Os depoimentos, no entanto, permitem perceber quem está falando. O filho sempre se refere à "minha mãe". "É um filme falado", sintetiza Lina.

Dorina também é um filme colorido e em movimento. Todos os entrevistados estão à frente de cenários de cores vivas e fortes. Uma frase de Dorina no meio do longa explica: "Como é que o cego vê? Você não tem uma cortina preta. É meio cinza, alguns vultos são até meio coloridos".

Morta em 2010, aos 91 anos, Dorina Nowill foi "uma mulher muito foda", nas palavras da atriz Martha Nowill, sua neta e narradora do filme. Ela ficou cega aos 17 anos. Esperava o milagre de voltar a ver, mas acabou aceitando sua condição e se transformou em uma "mulher de visão", como se diz no longa. Apesar da cegueira, ela conseguiu ser a primeira aluna a se formar no curso de magistério. Professora, viajou para os Estados Unidos, onde se especializou em educação para os cegos _e conheceu seu marido, Alexander, com quem teve cinco filhos.

Dorina Nowill discursa na Assembleia da ONU (1981)

Em 1946, Dorina trouxe para o Brasil a primeira impressora de livros em braile, que daria origem à Fundação para o Livro do Cego, que hoje leva seu nome. Referência na reabitação de cegos, a instituição imprime 80% dos livros para deficientes visuais que circulam no Brasil _até best-seller, como a biografia de Bruna Surfistinha. Dorina também foi uma agente política. Conseguiu transformar o direito à educação do cego em lei e acompanhou a criação de serviços do gênero em vários Estados do país. Lutou pelo voto do deficiente, pelo braile nos elevadores, pelas marcações táteis nas calçadas, pelo livro falado. Chegou a ser presidente do Conselho Mundial dos Cegos e, como tal, discursou na Assembleia Geral da ONU (Organização das Nações Unidas) em 1981.

O filme de Lina Chamie dá conta de tudo isso sem ser piegas ou chato. A cineasta costura entrevistas que Dorina deu a programas de Jô Soares, Clodovil, Silvia Poppovic, Marilia Gabriela e Chico Pinheiro com depoimentos de entrevistados e com a narração de Martha Nowill. Martha interpreta a avó, lendo trechos de sua autobiografia. Foi uma forma de ter Dorinha em primeira pessoa no filme.

A obra foi idealilzada por Martha, que chamou a atenção do grande público, no início do ano passado, ao interpretar a namorada de Paolla de Oliveira na minissérie Felizes para Sempre?. "O projeto surgiu da percepção de que a minha geração não conhecia a minha avó. Tive muita vontade de preservar a memória dela", conta a atriz. Inicialmente, o longa seria uma ficção. Acabou virando um documentário. "Tinha medo de o filme ficar melodramático. E a Lina tem o oposto disso, um cinema autoral", diz.

Coproduzido pela HBO, Girafa Filmes (de Lina Chamie), Mil Folhas (de Martha Nowill) e da Dezenove Som e Imagem, Dorina ficará disponível no serviço de vídeo por streaming HBO Go após a estreia no Max. Durante os primeiros 20 dias, qualquer pessoa poderá assistir ao longa, assinante ou não da HBO.


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